quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Capítulo 4 - Two hearts that shouldn't talk to each other

– Narração do Dave –
Estava encostado na parede fumando e vi Delilah se aproximar de mim.
– Oi. – Ela disse. – Cadê o Steve e os outros?
– Não sei, saí pra comprar cigarro e quando voltei não tinha mais ninguém.
– Está aqui a muito tempo?
– Não muito, vou esperar mais um pouco pra ver se aparecem e depois vou embora.
– Tudo bem, também vou.
Ela ficou ao meu lado por um tempo, depois sentou-se no meio fio e eu ri.
– Vai  ficar aí sentada igual a uma mendiga? – Perguntei.
– Vou, porquê? Quer dar esmola?
– Ah, vou embora. Vai ficar sentada aí?
– Já disse que vou.
– Tá bom.
Virei as costas e me afastei, se ela queria ficar sozinha à noite, problema dela. Cheguei perto do carro e olhei pra trás, ela continuava sentada no meio-fio e chutava algo no chão.
– Porra. – disse em voz baixa.
Eu não podia deixá-la sozinha. Voltei até onde ela estava.
– Porque não vai embora? – Perguntei.
– Não tenho dinheiro.
– Quer carona?
– Não
– Quer dinheiro?
– Não
– Então vai ficar aí?
– Vou. – Sentei ao lado dela. – O que você está fazendo?
– Te fazendo companhia. – Acendi outro cigarro.
– Porque?
– Eu estou tentando ser gentil com você, então cala a boca.
– Mas quem disse que eu quero a sua companhia?
– Porque você é sempre tão chata? – Olhei-a, ela tirou o cigarro da minha mão e ficou olhando por um tempo, achei que poria na boca, mas ela jogou no meio da rua. – Porque você fez isso? – Ela tinha conseguido me deixar com raiva.
– Você não vai fumar perto de mim. – Ela disse me encarando.
– Você deveria me agradecer, porque eu poderia ter ido embora e deixado você aqui sozinha correndo risco de ser estuprada ou sequestrada, ingrata.
– Não preciso de você, nem da sua pena. – Ela ficou observando a rua.
– Eu devia ter deixado você morrer aqui sozinha.
– Se for pra ficar aqui me irritando, acho melhor ir embora. – Virei o rosto pro lado e fiquei fitando o chão. Como essa garota pode ser tão irritante? Eu estou aqui perdendo meu tempo ao lado dela, enquanto poderia estar fazendo qualquer outra coisa melhor, ela deveria deixar de ser tão arrogante.
Ela bufou e eu a olhei.
– Desculpa. – Ela disse.
– Pelo que exatamente?
– Por ter sido estúpida com você. Não que não mereça, mas enfim. – Eu ri.
– Nem quando está tentando ser educada você consegue, impressionante. – Ela ignorou o que eu disse.
– Porque ficou aqui?
– Já disse, para te fazer companhia.
– Ah. – Ficamos em silêncio por um longo tempo, e por incrível que pareça, fiquei constrangido.
– Com tantos empregos por aí, porque resolveu trabalhar pro Steve?
– Preciso de dinheiro para pagar a faculdade de arquitetura, e ele era o que me pagaria melhor.
– Cadê sua família?
– E cadê a sua família? – Ela perguntou, na tentativa de se esquivar.
– Eu saí de casa. Minha mãe era muito religiosa e me pressionava demais. – Ela riu.
– Eu morava com a minha avó, mas saí de casa porque meus tios diziam que eu a extorquia.
– Parece que eles estavam certos, já que agora você não tem dinheiro nem para a passagem de volta. – Ela ficou quieta por alguns segundos, mas acabou rindo.
– É, talvez eles tivessem razão.
– Parece que o Steve não vai mais aparecer por aqui. – Ela se levantou e limpou a calça.
– É, eu vou embora. – Levantei também.
– Deixa eu te levar.
– Não precisa, vou a pé.
– Você ta brincando com a minha cara, né? – Peguei-a pelo braço e a puxei até o carro. – Você vai comigo querendo ou não.
– Você é a pior pessoa que eu poderia conhecer.
– Não vai se arrepender de ter me conhecido. – Abri a porta do carro e ela entrou. Entrei no carro e liguei o som, dei partida.
– Sabe onde é minha casa? – Ela perguntou.
– Sei. – Eu estava mudando as estações do rádio, quando passei por uma que estava tocando Smoke on the Water, do Deep Purple.
– Para! – Me assustei e a olhei.
– O que foi?
– Gosto deles. – Eu ri.
Ela estava cantando, e se tornava menos insuportável e quase delicada, era engraçado. Comecei a cantar junto com ela, mas ela acabou parando e me olhando, olhei pra ela e ri, ela estava sorrindo.
– O que foi? – Perguntei.
– Não sabia que cantava. – Ela riu.
– E eu não sabia que você podia ser tão adorável.
Chegamos em frente ao apartamento e ela saiu do carro e sorriu pra mim. Fiquei observando cada um de seus movimentos, desde que ela pegou a chave no bolso e brigou com a fechadura para a chave encaixar. Por um momento eu cheguei a pensar que ela não era tão desprezível. Gostosa, bonita, engraçada, sedutora... Mas que porra eu to pensando?!

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