domingo, 27 de outubro de 2013

Capítulo 11 - Yesterday's answers has nothing to do with today's questions

As coisas que Dave dissera rodam em minha cabeça, impedindo-me de dormir. Quando finalmente consegui pegar no sono já passava das seis da manhã. 

O despertador tocou pouco depois e eu me arrastei quase sem forças até o banheiro.

Minha cabeça doía demais e eu mal conseguia ficar com os olhos abertos. Tive de forçar a vista e me assustei ao ver meu reflexo no espelho, as olheiras estavam absurdamente profundas.

Com esforço tirei a roupa e joguei-me debaixo do chuveiro para acordar, mas não adiantou de nada. Estava com tanto sono que toda vez que fechava os olhos meu corpo pendia para o lado, ameaçando cair.

Levei quase uma vida para me vestir. Estava mais do que atrasada para o trabalho, mas não podia faltar.

Peguei meus óculos escuros e corri para o ponto de ônibus. Por sorte logo passou um. Acabei pegando no sono e passando do ponto. Acordei assustada e desci às pressas em frente a uma cafeteria. Eu precisava mesmo de algo que me desse energia. Quem sabe andar também ajudasse em alguma coisa, pensei. Acabei andando demais o que só me deixou mais mal-humorada ainda.

Entrei na loja empurrando a porta devagar, na esperança de não ser notada. Claro que foi em vão, já que aquele bendito sino tocava toda vez que a porta era aberta.

Bonnie logo se aproximou de mim.

- Bom dia.

- Bom dia. - Respondi indiferente.

- Está atrasada.

- Sei muito bem ver as horas. - Dirigi-me para trás do balcão.

- Não parece. - Ela cruzou os braços, imponente. - Se soubesse chegaria no horário. - Respirei fundo e me controlei para não ser grossa com ela.

- Essa foi a última vez. - Bonnie riu em deboche e apoiou os braços sobre o balcão.

- Quem você está querendo enganar? Essa não foi a primeira e nem vai ser a última. Só toma mais cuidado com o horário, está bem? - Suspirei e tirei os óculos. 

Bonnie me olhou assustada e curiosa. 

- Parece que alguém não dormiu esta noite.

Ignorei-a. Tudo que eu menos queria era Bonnie dando uma de amiguinha preocupada.

- O que vou fazer hoje?

- Você pode ficar aí no caixa, mas se eu fosse você colocava esses óculos de volta para não assustar os clientes. - Olhei-a com desprezo e joguei-me à cadeira. - O que aconteceu? - Não respondi e ela continuou. - Não acho justo eu ter que passar o resto do dia olhando para essa sua cara amarrada sem ao menos saber o motivo. - Continuei calada. - Eu posso ajudar... Ou pelo menos tentar.

- Não preciso de ajuda, só não consegui dormir.

- Tudo bem então. - Ela se afastou e foi limpar as prateleiras. Minutos depois ela voltou pedindo para que eu fosse comprar algo para comermos.

- Tá pensando que eu sou sua empregada? - Tenho que admitir, eu era um pé no saco quando estava com sono.

- Dá pra parar de ser grossa, garota? - Peguei o dinheiro no caixa e saí da loja batendo a porta. Comprei um pedaço de bolo e refrigerante e voltei para a loja.

Ao entrar vi Bonnie conversando com um garoto magricela e de cabelos pretos. Tudo que consegui ouvir da conversa foi "Mas é um show do Iron Maiden. Você precisa ir". Aproximei-me e entreguei a sacola para Bonnie.

- Quando é esse show? - Perguntei empolgada.

- Depois de amanhã. - O menino respondeu.

- Tá afim de ir? - Bonnie me olhou sorrindo.

- Não tenho dinheiro. - Dei de ombros e suspirei. Dinheiro eu tinha, mas as necessidades em primeiro lugar.

- Posso arrumar os ingressos pra vocês.

- O que vai querer em troca? - Bonnie perguntou desconfiada e ele, obviamente, se fez de desentendido.

- Como assim o que eu vou querer em troca? - Ela riu sarcástica.

- Eu te conheço, diz logo. - O menino cruzou os braços e disse:

- Bom, vocês sabem que não vai ser fácil conseguir os ingressos, afinal é um show do Maiden... Eu não queria ter que pedir nada, mas já que a Bonnie insistiu tanto... - Ele sorriu e continuou - Eu to devendo uns caras e não tenho como ir pegar umas coisas...

- Eu não vou pegar drogas pra ninguém. - O interrompi, rude.

- Você vai mesmo deixar essa alma caridosa morrer de abstinência?

- Abstinência não mata ninguém. - Sentei atrás do balcão e continuei. - E mesmo se matasse, não me importaria.

Eu era tão grossa com as pessoas que às vezes sentia pena delas.

Bonnie riu e perguntou: 

- Aonde é esse tal lugar? - Ele a abraçou de lado e sorriu.

- Assim que se fala, boneca. - O menino se aproximou do balcão, anotou algo em um pedaço de papel e sorriu para mim. - Te vejo amanhã.

Ele estava certo de que eu iria aceitar.

Desviei o olhar e vi Scott entrar na loja, parar à minha frente e olhar sério para o amigo de Bonnie.

- Vocês duas não deviam estar trabalhando? Não pago ninguém pra ficar de papo com um drogado no horário de serviço... E Malcom, se não vai comprar nada dá o fora da minha loja, agora. Não quero você atrapalhando minhas meninas. - Falando desse jeito parecia até que ele era nosso cafetão.

- Sempre tão educado. - Ele respondeu sarcástico. - Já estou de saída. - Malcom olhou para Bonnie antes de sair, sorriu e disse: -   É só você chegar lá e dizer meu nome. Amanhã passo aqui e trago os ingressos.

Bonnie se aproximou e olhou o papel sobre o balcão.

- Pelo menos é perto. - Olhei-a descrente.

- Você é louca de ir a um lugar desses.

Ela bufou, saturada.

- Será que você nunca feliz com nada, Delilah? É o Maiden! Maiden! Maiden!

- Eu sei quem são, não precisa ficar repetindo.

- Então quando fecharmos a loja nós passamos por lá.

- Nós? - Eu queria muito ir ao show, mas não sabia se queria tanto assim a ponto de aceitar ficar no meio de traficantes.

- Sim, nós. Eu e você.

Ela aumentou o som e foi atender um homem que estava no canto da loja.

- Maiden. Maiden. - Sussurrei tentando me encorajar.

Peguei o papel que estava sobre o balcão e suspirei. Sim, eu queria tanto ao ponto de ficar em meio a traficantes. Seria só por alguns minutos. Pegar e ir embora. Nada demais. Além disso, o show ajudaria a distrair minha cabeça.

O dia na loja foi corrido. Além do grande movimento na loja, volta e meia Scott me mandava ir comprar alguma coisa. Resumindo, me fez de escrava.

Já era oito da noite quando a loja esvaziou. Estávamos prontas para fechar quando Scott cismou que tínhamos que limpá-la.

- Mas temos que fazer umas coisas, Scott. Não podemos limpar amanhã? - Bonnie perguntou, nervosa.

- Não! Limpem agora. Tenho certeza de que o que quer que tenham que fazer pode esperar. - Ele saiu e nos deixou sozinhas.

- Não acredito nisso.

- Para de reclamar, Bonnie. - Eu já estava pegando a vassoura. - Vamos fazer isso logo. Quanto mais rápido fizermos, melhor.

Ela pôs Highway to Hell para tocar no último volume, o que facilitava um pouco as coisas. Terminamos de limpar já era quase onze da noite e eu estava exausta. Nós duas estávamos.

- Cadê o endereço? - Perguntou Bonnie, secando as mãos na calça.

- Você vai mesmo fazer isso?

- Eu não. Nós.

Entreguei a ela o pedaço de papel e ela analisou-o, ansiosa.

- Nem vamos precisar pegar ônibus. É praticamente aqui do lado.

- Nossa, que ótimo! - Meu sarcasmo uma hora iria irritá-la.

Bonnie me segurou pelo braço e me puxou para fora da loja. Fechamos tudo e fomos andando até o lugar. Ficava a duas ruas de lá. Era um bar escondido, com a entrada por uma apertada porta marrom.

Nos dirigimos até o balcão e um homem alto e gordo veio nos atender. 

- O que desejam?

- Duas cervejas, por favor. - Disse Bonnie e o cara se afastou para buscá-las.

- Duas cervejas?

- A gente tem que disfarçar, né. - Se ela estava tentando disfarçar, tenho que dizer que estava agindo como uma idiota. Respirei fundo revirei os olhos.

Ele trouxe a cerveja e pôs a nossa frente. Dei um gole e o observei.

- Você pode me dizer onde posso comprar drogas neste muquifo? - Perguntei sem rodeios. 

Bonnie abaixou a cabeça, como se não tivesse nada a ver com aquilo.

- Você deveria ter mais cuidado com as palavras que usa, menina.

- Desculpa, mas eu não perguntei quais seriam as palavras mais adequadas para se usar nesse lugar, agora você pode responder a minha pergunta? Porque se não puder eu não vou perder o meu tempo sentada aqui olhando pra sua cara. - Eu falava sem dar pausa alguma.

- Não dá atenção ao que ela fala. - Disse Bonnie, na tentativa de me salvar. Não que eu precisasse ser salva.

- Não, tá tudo bem. Gostei dela. - Ele sorria para mim de um jeito estranho. - Qual o seu nome, mesmo?

- Não te interessa. - O cara riu. - Ok, ok. Segunda porta a direita. Procure por Eddie, ele vai ter tudo que vocês precisam.

Peguei minha garrafa e levantei. Eu já estava andando em direção à porta, mas Bonnie ficou para pagar.

- Obrigada, viu.

- De nada... Foi um prazer conhecer sua amiga... e você. - Eu estava de costas, mas tinha certeza de que ela tinha olhado-o com raiva e o xingado mentalmente.

Ela se aproximou de mim e pôs a mão em meu ombro.

- Você é muito mal educada, Delilah.

- Se não gosta, não fala comigo.

Abri a porta e entrei sem pensar. O lugar fedia e me deixou tonta por alguns segundos. Tinham uns homens estranhos e algumas garotas, espalhados pela sala, bebendo e se drogando. E no final, bem debaixo da janela um grande sofá amarelo mostarda com um cara alto e barbudo jogado em cima dele. Ele nos olhou de cima à baixo com um sorriso ousado no rosto.

- Olha só o que temos por aqui hoje. Vieram chupar o pinto do papai?

Retribuí o olhar, porém com nojo.

- Não quero pegar lepra. - Os que estavam em volta riram, mas ele não pareceu achar graça alguma.

- Malcom nos pediu pra vir aqui pegar a encomenda - Bonnie se pronunciou.

Ele voltou a me olhar com aquela cara de quem mal podia esperar para me foder.

- Imaginei que ele fosse mandar alguém, mas não que fossem duas mulheres. Muito menos que uma delas me desse tanto tesão. Vocês não querem ficar?

- Só a encomenda, por favor. - Bonnie respondeu, ríspida.

- Ok, só as encomendas. - Ele sinalizou com as mãos e um das garotas nos entregou uma sacolinha com heroína. - Digam a ele que essa é de boa qualidade, e que é pra ele reduzir a dose se não quiser morrer de overdose. E já ia esquecendo, digam também que ele me deve quinhentos reais por isso.

Olhei incrédula para Bonnie, que agradeceu ao cara. Como alguém paga tanto por um mísero saquinho de heroína? E o mais importante, de onde ele tirava aquele dinheiro?

- Tchau, meninas. Espero vê-las de novo.

Ao sairmos do bar deixei a garrafa vazia em cima do balcão.

- Não acredito que ele pagou quinhentos reais por essa porcaria.

- Nem eu.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Quando virei-me para olhar para trás vi um carro idêntico ao do Mustaine estacionado do outro lado da rua.

- Não acredito nisso! - Exclamei nervosa.

- É... Eu também ainda não to acreditando que ele vai...

- Não to falando disso.

- Do que está falando, então? - Ela me olhava confusa. Não podia ser ele, quais as chances, certo? Resolvi deixar pra lá.

- Nada não. Vamos embora.

- Tá bom, então.

Voltamos a andar, mas um barulho de latas de lixo caindo me chamou atenção e eu parei imediatamente. Olhei para a Bonnie, preocupada.

- Mustaine. - Corri até o carro e a porta do motorista estava aberta, a chave na ignição.

- O que está acontecendo? - Gritou Bonnie e correu atrás de mim. - Delilah, o que tá acontecendo?

- É o carro do Mustaine.

- E daí? Vamos embora.

Eu estava torcendo para não ser nada demais, mas já esperava pelo o pior. Olhei em volta e vi as sombras de duas pessoas em um beco. Uma delas estava no chão e a outra em pé. Pareciam brigar.

Para, por favor. - Era a voz de Dave, tinha certeza que era. Não sabia se ia embora ou se ia ajudá-lo. Mas o que eu poderia fazer? Se alguém estava batendo nele não faria muito esforço para bater em mim também. Mas decidi ajudar mesmo assim.

- Delilah, vamos embora. Aqui é perigoso.

Ignorei-a e corri até o beco. Mustaine estava jogado no chão com o rosto sujo de sangue e a mão sobre a barriga enquanto o outro o chutava nas costas.

- Para! Para! - Gritei e corri para ficar entre os dois.

- É melhor você sair da minha frente, garota. Se não vai apanhar junto com ele.

Olhei para Dave e me deu tanta pena... Eu tinha que fazer alguma coisa. Pensar rápido.

- Ele está quase morrendo, não vale a pena matá-lo. Ele é inútil.

- Meu assunto não é com você. Sai da frente.

O homem me empurrou e levantou Dave pela camisa, preparando-se para socá-lo. Entrei em pânico gritei novamente:

- Não! Eu pago! Quanto você quer? Eu pago. Mas por favor, não bate mais nele. 

- Eu mandei você ir embora, não mandei? Some! - Eu olhava desesperada para o Mustaine. Ele tentou falar, mas só saía sangue de sua boca.

Bonnie reagiu e me segurou pelo braço.

- Vamos, Delilah. Você ouviu. Vamos embora. - Não me mexi, simplismente não conseguia. - Vamos, Delilah. Ele já disse que não quer dinheiro. - Ela gritava comigo e tentava me puxar.

Dave levou mais um soco no estômago e caiu ao chão. Se ele não queria dinheiro, alguma coisa ele teria que querer. Pensei rápido e peguei a sacola da mão da Bonnie.

- O que você tá fazendo?

Joguei-o para o cara e ele o agarrou.

- Tem quinhentos reais de heroína aí dentro. É da boa. Leva isso como garantia de que ele vai te pagar. Olha só como ele tá, se você continuar batendo ele vai morrer. E você vai ficar sem dinheiro.

Ele riu e levantou Dave pela gola da camisa. Segurei no braço do homem e implorei:

- Por favor, não bate mais nele. Por favor. 

- Parece que pelo menos alguém ainda tem piedade de você. Considere nossa divida paga.

Ele o soltou e foi embora examinando a heroína na sacola. Eu corri para segurar Dave, mas ele era pesado demais. Principalmente quando não consegue se aguentar em pé. Caí de joelhos com a cabeça dele ao meu colo.

Bonnie estava desesperada, com as mãos na cabeça.

- Eu não acredito que você fez isso, Delilah.

- Eu vou pagar.

- Não importa se você vai pagar ou não. Você ouviu o que ele disse? Você ferrou a gente, Delilah. Tudo por causa desse fracassado.

Por mais que ela tivesse razão não tinha direito de falar assim dele.

- Não o chama assim. Você não o conhece. E se não for me ajudar pode ir embora.

- Eu não acredito nisso. - Ela se virou para ir embora.

Passei a mão pelos cabelos dele e observei cuidadosamente seu rosto. Meu coração apertou e eu não sabia o que fazer.

- Vamos lá. Você tem que pelo menos conseguir ficar em pé. - Levantei-o devagar e ele cuspiu sangue. - Droga.

Bonnie voltou para perto de nós e segurou-o pelo outro braço.

- Ele precisa ir a um hospital. Urgente.

- Obrigada. - Disse quase em sussurro.

O levamos até o carro e entrei no banco de trás com ele. Bonnie ficou no banco do motorista. Encostei-o ao banco com a cabeça inclinada para cima, tirei minha blusa e passei por seu rosto. Ele gemeu de dor e meu coração apertou novamente. Passei levemente a mão por seu rosto.

- Vai ficar tudo bem. Vamos te levar para o hospital. - Ele pôs a mão por cima da minha e a acariciou. Era sua forma de me agradecer.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Capítulo 10 - Luck deserted me and the truth beat out my brains

Tínhamos acabado de voltar do casamento e Dave queria tirar minha roupa antes mesmo de entrarmos em meu apartamento. Eu tentava abrir a porta enquanto ele beijava meu pescoço e levantava meu vestido. Entramos, Dave chutou a porta para que fechasse e colou nossos corpos, beijou meu pescoço mais uma vez enquanto abria o zíper do vestido. Deixei-o cair sobre os meus pés e desabotoei sua camisa. Ele me jogou sentada no sofá e se ajoelhou a minha frente apertando minhas coxas com força, tirou minha calcinha e abriu minhas pernas. Apertou-as novamente e subiu beijando a parte interna da minha coxa até minha vagina e lambeu meu clitóris. Segurei seu cabelo enquanto ele me chupava. Gemi baixo e abri os olhos, olhei em volta e não tinha ninguém. Era tudo um sonho e eu estava com tesão. Droga! Cobri o rosto com o cobertor e voltei a dormir.

– Narração do Dave –

Estava na sala bebendo e conversando com Greg, Ellefson e Lee. Olhei pela janela e puxei o braço do Lee para ver as horas em seu relógio de pulso. Já era quase cinco da tarde e eu ainda nem tinha começado a me arrumar. Levantei e corri até o quarto, joguei o terno em cima da cama e fui tomar banho. A parte fácil eu tinha conseguido, pôr o terno. Tentei de várias formas, mas qualquer coisa que tenha saído com certeza não era um nó de gravata. Fui até a sala, quem sabe um deles...

– Por acaso algum de vocês sabe como fazer isso? – perguntei indicando-os a gravata. Greg levantou e veio até mim.

– Que é isso? – perguntou enquanto sacudia o paletó.

– Não faz isso, cara. Vai amassar. – disse batendo em sua mão.

– Aonde você vai? – perguntou Ellefson, rindo.

– Um casamento.

– Casamento de quem? – perguntaram em uníssono.

– Prima da Delilah. E eu estou atrasado.

– Delilah? – perguntou Ellefson.

– Sim, Delilah.

– Você transou com ela, né?

– Não. – Passei a gravata em volta do pescoço e peguei as chaves de casa e do carro, fui até a porta e abri. Esperava que eles fossem embora, mas tudo que fizeram foi olhar para mim como se eu fosse retardado.

– O que foi? – Greg perguntou e eu os indiquei a porta.

– Ah, não. Nós vamos dormir aqui hoje. – Pensei em expulsá-los, mas sabia que eles só me ignorariam.

– Fim da narração do Dave –

Eu estava impaciente, andando de um lado para o outro com o barulho do salto me irritando. Finalmente ouvi batidas à porta, olhei para o relógio e eram exatamente cinco e vinte. Abri a porta violentamente, pronta para gritar com ele, mas fiquei sem reação. Dave estava de terno e óculos escuros, com a gravata pendurada em seu pescoço e sua camisa branca com três botões abertos. Estava ainda mais bonito do que no sonho. Ótimo! Primeiro o tesão e agora isso.

– Você está atrasado, inútil.

– Culpa da gravata. Faz o nó pra mim.

– E você acha que eu sei fazer isso? Pra que esses óculos escuros?

– Por quê? Não gostou? – O empurrei para o corredor e saí, trancando a porta. – Você tá muito gostosa nesse vestido. – Ele me seguia enquanto eu descia as escadas.

– Agradeceria se você parasse de olhar para a minha bunda. – Pude ouvi-lo rir. Apertei o passo e consegui chegar ao carro antes dele. Eu batia o pé no chão incessantemente e Dave ria de mim. Depois de ele enrolar séculos para abrir o carro, finalmente entramos e seguimos para a casa da minha avó. – Eu ainda quero saber o que aconteceu aquela noite.

– Não quer saber, já cuidei de tudo mesmo. – O encarei e ergui uma sobrancelha.

– Você pegou na minha bunda. – Ele riu e me olhou.

– Disso você lembra.

– Você se aproveitou de mim.

– E você gostou.

– Não!

– Não? – Ele disse rindo. – Você lembra do que fez aqui no carro?

–Não. O que eu fiz?

– Quase morremos por sua causa, Delilah.

– O que eu fiz, Mustaine?

– Bom, primeiro você dançou semi-nua com o Mike na frente de todo mundo, depois você teve o peito chupado por ele, e teria feito outras coisas se eu não tivesse te ajudado...

– Ajudado?

– Dei um soco na cara dele. – Por que diabos ele se importou com o que eu estivesse fazendo? – Eu te salvei e te trouxe pra casa. E no caminho você botou a mão no meu pinto...

– Eu não fiz isso.

– Fez. – Ele riu. – Então eu acho que quem foi assediado aqui fui eu e não você. – Eu devia estar mais vermelha do que um tomate e não sabia onde enfiar a cara. Abaixei a cabeça e pus a mão em meu rosto. – Delilah... – Eu o olhei. – Quantos já chuparam seu peito? – Bati em sua cabeça e olhei para frente.

– Vai tomar no cu. – O resto do caminho nós fomos em silêncio. Eu não conseguia nem olhar para ele direito.

Desci do carro e andei devagar até a porta. Entramos e praticamente todos os meus primos irritantes estavam jogados no sofá. Perfeito, tudo que eu precisava. Michael levantou e veio até mim.

– Nossa, Delilah... – Ele me olhava de cima a baixo. – Como você cresceu.

– Algum problema, amor? – Disse Dave, que tinha acabado de se aproximar de mim. Respirei fundo e o encarei. Ele passou a mão em volta da minha cintura e sorriu para Michael.

– Quem é esse... – Meu avô se aproximou olhando para Dave. – rapaz, segurando minha neta preferida?

– Vovô. – O abracei com força.

– Nunca ganhei um abraço assim. – Reclamou Mustaine.

– Vocês não são namorados? – Perguntou Michael.

– História complicada. – Ele respondeu. O encarei e respirei fundo.

– Dave, esse é meu avô Joseph. Vô, esse é David, meu...

– Namorado. – Dave sorriu e estendeu a mão para cumprimentá-lo. Filho da puta.

– Sua avó está te esperando no quarto. Anda logo por que senão vão chegar atrasados.

– Até que não seria má ideia.

– Vamos, querida. Faça esse esforço pela sua avó. – Tirei Dave de perto do Michael e o levei para o quarto comigo.

– Vó?

– Delilah! Ah, vejo que trouxe seu namorado.

– Eu não perderia Delilah de vestido por nada. – Ele disse rindo.

– Mas olha só pra vocês dois. Não sabem se arrumar. – Ela disse o puxando pela camisa. – Essa camisa aberta. – Agora estava abotoando-a. – Não consegue dar um nó de gravata menino? E você, Delilah. Por que não fez isso para ele?

– Eu não sou empregada dele.

– Tem que cuidar do que é seu, filha. E esses cabelos, por que não faz um penteado bonito? Sempre com eles soltos assim. Senta na cadeira que eu e suas primas faremos alguma coisa em você. David, você vai para a sala com o resto dos meninos. – Ela o empurrava para fora do quarto.

– Você vai ficar bem? – Dave me perguntou.

– Acho que sim. – Ele sorriu para mim e deixou o quarto. Sentei na cadeira e olhei para o espelho.

– Você deveria ter passado maquiagem também, Delilah.

– Só faz esse penteado e acaba logo com isso. – Depois de mais de 10 minutos com a bunda naquela cadeira elas finalmente terminaram. Eu me levantei e saí do quarto antes que inventassem de fazer qualquer outra coisa. Mustaine se levantou e veio em minha direção.

– Bem melhor. Vira de costas para eu ver. – Ele sorria. Meu cabelo estava preso e agora dava para ver o decote nas costas. Virei de costas para ele e respirei fundo. Dave se aproximou e sussurrou ao meu ouvido. – Agora dá pra ver melhor a sua bunda. – Revirei os olhos e me afastei dele.

– Vô, diz para a vovó que nós fomos na frente, tá?

– Tá bom, querida. – Nos despedimos dele e entramos no carro.

Chegamos à igreja e ele ainda estava com aqueles óculos na cara.

– Será que você pode tirar isso?

– Pensei que você tivesse gostado.

– Eu não quero chamar atenção.

– Com essa roupa fica um pouco difícil. – Puxei os óculos do rosto dele e me sentei. – Delilah.

– Que é?

– Por que eles estão casando em uma igreja? – Revirei os olhos e joguei os óculos em seu colo.

– Eu disse que eu era ateísta, não minha família inteira. – Dave passou o braço em volta dos meus ombros e acariciou meu braço. – O que você está fazendo?

– Tentando te acalmar, você tá precisando. – Provocou.

– Vai se foder, Mustaine. – Tentei, em vão, tirar seu braço, mas ele fazia força demais e acabei desistindo. Revirei os olhos e bufei fazendo com que Dave risse da minha cara.

O casamento estava marcado para seis da tarde e já era mais de sete. Aquela vadia devia estar traindo o marido antes mesmo de casar.

– Não basta ser a noiva e ser o centro das atenções, tem que se atrasar mais de uma hora.

– Você tá irritada demais, Delilah. – Dave disse enquanto mexia em meu cabelo.

– Para com isso. – Ele me ignorou e continuou. Além da vadia da Jessie estar atrasada e Mustaine estar enchendo o saco, ainda tinha meus tios, que não paravam de olhar para mim de cara feia.

– Delilah, você não gosta da sua prima?

– Não e não pergunta o porquê. – Ele me olhou e franziu a testa.

– Por quê?

– Porque não te interessa.

Esperamos por mais uns vinte minutos e ela resolveu aparecer. Toda sorridente, entrou acompanhada do pai, outro imbecil. Acenou para mim e eu ignorei.

– Sua prima é bem legal, Delilah. – O encarei. – Sabe... legal.

– Por que não fala de uma vez que acha ela gostosa? – Ele apenas riu.

Depois da cerimônia fomos para o salão de festas. E Dave fazia questão de se apresentar, para cada pessoa que falava comigo, como sendo “meu namorado”. O arrastei até o bar e me sentei no banco ao lado do dele. Pedi wisky ao barman e Dave pôs a mão em meu ombro.

– Você não pode beber, Delilah. Não se esqueça do bebê.

– Que bebê? Tá ficando maluco? – O empurrei e saí de perto, mas ele me seguiu. Deveria ter ficado no mesmo lugar, porque a tentativa fracassada de sair de perto dele só fez com que tudo piorasse. Nós demos de cara com a minha prima.

– Oi, Delilah! – Ela abriu os braços e se aproximou de mim.

– Jessie. – Disse com desprezo.

– Você não vai me parabenizar pelo casamento?

– Não, mas diga ao seu marido que eu sinto muito.

– Não fique chateada só porque eu consegui ser a primeira... de novo.

– Oi. – Mustaine se intrometeu. – Eu sou o namorado da Delilah, Dave. Parabéns pelo casamento. – Ele a abraçou e a olhou de cima a baixo. – Se você é assim com o vestido de noiva, imagina sem. – Jessie fingiu ficar com vergonha e me olhou.

– Meu vestido fica bem em você, mas não tanto quanto ficava em mim. – Ela sorriu e se afastou. O vestido era dela? Dela? Minha avó esqueceu de mencionar esse pequeno detalhe. Se eu soubesse, nunca teria posto aquilo. Segurei Dave pelo pulso e o puxei para fora do salão.

– Aonde vamos? – Ele não parava de perguntar.

– À casa da minha avó, agora. Anda logo. – Ele abriu o carro e entrei com pressa.

– O que vamos fazer lá, Delilah? – Perguntou enquanto dirigia.

– Só vai e cala a boca. – Entrei em casa e corri para o meu antigo quarto. Alguma coisa tinha que ter. Olhei em todas as gavetas e só achei uma calça preta, que pelo que me lembrava, estava apertada. Era isso ou nada, eu não tinha escolha. Virei-me para tirar o vestido, mas Dave me olhava sem entender nada.

– Sai daqui, anda. – O empurrei para fora do quarto e fechei a porta. Tirei o vestido o mais rápido que pude, minha vontade era de rasgá-lo inteiro. Não entendo por que não o fiz.

Depois de muita luta consegui vestir a calça, estava sem poder respirar ou me mexer direito, porém não importava, eu ainda precisava de uma blusa. Demorei, mas achei uma camisa preta masculina e uma blusa vermelha e decotada. Claro que optei pela camisa, a vesti rápido e por coincidência, Dave abriu a porta e me olhava incrédulo.

– Por quê? – Ele perguntou.

– Porque o vestido era dela, Dave. – Respondi com raiva.

– De quem é essa blusa? Do seu avô? – Ele disse rindo.

– Do meu ex-namorado, na verdade. – Eu sorria para ele.

– Por que tem uma camisa do seu ex-namorado na casa da sua avó?

– Onde você acha que a gente transava? – Disse, rindo. Ele me encarava. Peguei o vestido e respirei fundo, estava pronta para sair do quarto mas Dave me impediu.

– Ei, que tal aquela ali? – Ele disse apontando para a blusa vermelha que eu havia deixado em cima da cama.

– Não. Agora vamos.

– Antes de ir, me dá um pouco d’água? – Ele sorriu e eu revirei os olhos.

– Tá bom. – Fui até a cozinha e ele me seguiu. Coloquei o copo com água em suas mãos. Dave enrolava para beber, ele queria mesmo me irritar. Ele andou em minha direção e tropeçou, derramado água em mim.

– Opa! Foi sem querer. – Ele disse rindo.

– Claro... sem querer. Filho da puta. – Tirei a camisa, me sequei e joguei-a nele. Dave me olhava surpreso. Fui ao quarto e pus a blusa vermelha. Ótimo! Eu estava parecendo uma puta e aquele maldito salto não ajudava em nada. Voltei de braços cruzados e batendo os pés com força. Dave riu ao me ver vestida daquele jeito. – Vamos. Anda logo. – Abri a porta violentamente e fiz sinal para que saísse. Ele passou por mim sorrindo e eu bufei.

Seguimos de volta para a festa, eu estava segurando o vestido com tanta força que minhas mãos chegavam a doer. Entrei no salão procurando pela Jessie. Mustaine perguntou tantas vezes  o que eu ia fazer que eu já estava vendo a hora de meter a mão na cara dele. Todos me olhavam incrédulos e meus tios estavam furiosos, mas eu não me importava. Minha avó se aproximou de mim e pôs a mão em meus cabelos, agora soltos.

– Por quê está vestida desse jeito, Delilah?

– O vestido é dela, vó.

– Minha filha, é só um vestido. Você realmente ficou com raiva por isso? – Avistei Jessie e respirei fundo. – Eu vou resolver tudo isso agora.

–Isso não vai prestar. – disse Dave. Fui na direção dela e ele veio atrás de mim. – Delilah. – ele me segurou pelo braço. – Se acalma, cara. – O encarei com raiva e me soltei.

– Vai se foder, Dave. – Andei o mais rápido que pude com aqueles saltos me atrapalhando, esfreguei o vestido no rosto dela, a empurrando. – Agora engole e vê se sai pelo cu, vadia. – Jessie jogou o vestido no chão e levantou a mão para me bater. Segurei seu pulso com força e soltei uma risada sarcástica. – Você tá pensando mesmo que vai bater em mim? – Dei um tapa em seu rosto com toda minha força e antes que eu pudesse fazer qualquer outra coisa, Dave me segurou com força e me puxou para trás. – Me solta, Mustaine!

– Não, você precisa se acalmar.

– Me solta, caralho. Eu não vou fazer mais nada com ela. – Eu protestava em vão. Ele continuava a me segurar com força.

– Mas o que ta acontecendo aqui? Será que vocês duas não podem ficar bem nem por umas horas? Será que vocês duas não podem me dar paz? – Minha avó apareceu gritando.

– Se acalma, Margaret. – Disse meu avô a segurando pelos ombros.

– É tudo culpa da Delilah. Olha só como ela está vestida. Parece uma vadia. – Jessie parecia implorar por outro tapa.

– Eu não sou como você, Jessie. – Dave finalmente me soltou e eu me aproximei da minha avó.

– Você estragou tudo. – Ela estava mesmo decepcionada comigo.

– Não fala assim com ela, Margaret.

– Tudo bem, vô. Ela tem razão. – Meu avô passou o braço em volta de seus ombros e a levou dali. Tudo que Jessie fazia era rir, nem parecia que tinha acabado de apanhar. Dave se aproximou de mim e pôs a mão em meu ombro.

– Você está bem, Delilah? – Ele estava me acariciando.

– Melhor impossível. – Andei na direção do bar e Mustaine veio atrás de mim. Virei-me de frente para ele e respirei fundo. – Me deixa em paz, Dave. Quero ficar sozinha. – Sentei ao balcão e olhei em volta, todos ainda estavam a me encarar. Respirei fundo e olhei para frente, o barman sorria para mim. Sério mesmo, cara? Acho que agora não é hora de flertar com a garota revoltada. Ele me trouxe wisky e eu abaixei a cabeça. Estava me sentindo culpada por deixar minha avó daquele jeito. Eu queria pedir desculpas, mas não queria ter que sair para procurá-la, pelo menos não por enquanto. Fiquei um bom tempo sentada tentando me acalmar.

– Querida. – Meu avô disse ao pôr a mão em meu ombro. Sorri sem graça e respirei fundo. – Está tudo bem? – Assenti. Eu não estava muito afim de falar. – Eu sei que a Jessie não é flor-que-se-cheire, também não gosto dela. Mas você não deveria ter feito aquilo, magoou muito sua avó.

– Eu sei. Eu estraguei tudo. Ela estava feliz e eu estraguei. – Respondi quase que em sussurro.

– Por que não levanta e vai pedir desculpas a ela? – Sugeriu sorrindo. – Ela está perto do banheiro. – Levantei-me e o abracei, respirei fundo e fui procurar minha avó. Ela estava sentada em uma poltrona perto do banheiro feminino. Pus a mão em seu ombro e me abaixei.

– O que você quer, Delilah?

– Eu vim pedir desculpa.

– Pedir desculpas depois do que tá feito é fácil.

– Eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto, mas a culpa não foi minha. A senhora sabe que eu a odeio e me fez vir aqui mesmo assim e ainda por cima com o vestido dela.

– Pensei que você pudesse fazer esse esforço por mim, por tudo que eu já fiz por você.

– Eu tentei, vó. Eu tentei.

– Não foi o suficiente. – A essa altura eu já estava quase chorando. Ela me olhou com desprezo e suspirou. – É melhor você ir embora, Delilah. Já que você nem queria vir. – Respirei fundo e levantei. Eu tinha mesmo que ir embora e precisava do Dave para isso. Procurei-o por todo canto, mas ele parecia ter evaporado. Cheguei a olhar no estacionamento, entretanto seu carro continuava lá. Pelo menos eu sabia que ele não tinha ido embora sem mim. Só restava olhar no banheiro masculino. Entrei sem pensar e não vi ninguém. Verifiquei as cabines e só uma estava ocupada. Recostei-me à pia e fiquei parada olhando para a porta.

– Calma. – Alguém disse da cabine e logo depois riu. Eu conhecia aquela voz, com certeza era Dave, só podia ser. Eu precisava confirmar e saber com quem ele estava falando. Entrei na cabine ao lado e subi no vaso me apoiando à parede. Olhei por cima e lá estava ele, com o paletó ao chão, camisa aberta e os braços em volta da cintura da Jessie. Jessie! Jessie! Jessie! Ele estava no banheiro com ela, logo com ela.

– Filho da puta! – Esbravejei e eles me olharam. Saí da cabine e Dave veio logo atrás.

– Delilah, espera. – Ele me segurou pelo braço e eu o encarei.

– Esperar pra quê? Ver você transar com a minha prima que acabou de casar?

– Não é bem assim. – Soltei-me dele e cruzei os braços.

– Ah não? O que vocês estavam fazendo então? Brincando de casinha?

– Por que você ficou tão irritada?

– Ah, vai se foder Mustaine. – Dei as costas e saí de lá. Eu precisava ir embora e iria nem que fosse a pé.

– Aonde você vai? – Já estava na calçada quando Dave me gritou.

– Para casa. – Gritei de volta. Ele correu até mim e segurou meu braço.

– Eu levo você.

– Não vai não.

– Então você vai andando? Deixa de ser estúpida.

– Então quer dizer que agora eu que sou estúpida? – Dei uma risada sarcástica. – Ontem mesmo você estava tentando transar comigo. – Ele riu e passou a mão nos cabelos.

– Ontem. Passado, Delilah.

– Você não passa de um merda, Mustaine.

– Como se você fosse muito diferente de mim. Quase ninguém da sua família gosta de você, e ainda conseguiu deixar sua vó daquele jeito. O que custava você ter ignorado as provocações da Jessie?

– Cala a boca, Mustaine. Você fala desse jeito pensando que sabe de alguma coisa, mas você não sabe de nada.

– Mas é claro que eu sei.

– Aham, claro que você sabe. Me poupe, Mustaine. Você não sabe nem o que fazer com a sua própria vida. Quer dizer... se isso que você tem pode se chamar de vida. Você só sabe beber, se drogar e pegar mulher. Você é tão sujo, que até os caras do Metallica te dispensaram.

– Eu não vou discutir com você. – Dave virou de costas para mim, foi andando em direção ao carro e eu o segui.

– Você não tem o que falar, porque sabe que tudo que eu disse é verdade. Você é um fracassado. – Eu tinha conseguido tirá-lo do sério. Dave se virou, me segurou pela blusa e me olhou nos olhos. Por um momento achei que ele fosse me bater, mas ao invés disso ele disse na maior serenidade:

– Você tenta se proteger com esse seu jeito estupido, mas todo mundo já percebeu que você tá na merda igual a mim. Ninguém te quer por perto porque você incomoda. Ninguém gosta de você, nem você mesma. Você é tão sozinha quanto eu, Delilah. – Ele largou minha blusa e andou até o carro. Eu não tinha como responder e nem queria. Dave abriu a porta do passageiro e me olhou. – Entra no carro que eu vou te levar pra casa.

Suspirei e andei devagar até ele. Eu merecia ouvir aquilo e merecia ter visto os dois no banheiro. Eu tinha feito mal à minha avó e estava só recebendo o que merecia. Entrei no carro e ele me levou para casa. Não falamos nada o caminho inteiro. Desci do carro e o agradeci, subi para meu apartamento e me joguei na cama. Tudo que eu queria era dormir para não pensar em mais nada.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Capítulo 9 - The harder the rules became

Acordei com o sol batendo em meu rosto, mas minha cabeça doía demais para que eu abrisse os olhos. Fiquei me revirando na cama por mais alguns minutos... Ou horas, não sei direito. Finalmente tomei coragem e abri e parecia que tinham acendido todas as luzes do mundo direto na minha cara, puxei o travesseiro e cobri o rosto. Levantei-me devagar e fui tomar banho. Ao sair encostei minha cabeça no espelho sobre a pia e fechei os olhos. Esforçava-me para lembrar o que acontecera na noite anterior, mas tudo que tinha eram fragmentos. Gritos, Dave batendo em alguém, pegando na minha bunda...
Meus pensamentos foram interrompidos pelo telefone e por um momento considerei não atender, mas o barulho irritante só fazia com que minha cabeça doesse mais.
– Delilah, é o Dave.
– Oi, o que você quer?
– Só liguei para saber se você estava viva. – Não, meu fantasma que te atendeu.
– Estou, agora você já pode desligar.
– Tá bom, tchau.
– Tchau. – Fiquei esperando ele desligar o telefone, mas ainda podia ouvir sua respiração. – Ligou só para isso?
– Foi.
– Então por que não desliga o telefone?
– Desliga você.
– Não, desliga você.
– Você não manda em mim, eu não vou desligar. – Ele já estava me irritando.
– Desliga logo a porra do telefone, Mustaine.
– E se eu não quiser desligar, caralho?
– Então eu desligo. Tchau.
– Não, eu desligo. – Ri.
– Ah, vai se foder.
– Você deveria me agradecer por ontem. – Bati o telefone no gancho, com força e me sentei à cama. O que ele quis dizer com aquilo? Respirei fundo e puxei o telefone para meu colo, me estiquei até o criado-mudo e abri a gaveta. Tive que me esticar ainda mais para conseguir pegar a agenda. Poderia ligar para Ellefson, mas com certeza o acordaria. Liguei para Dave, que demorou a me atender.
– Alô?
– É a Delilah. – Pude ouvi-lo rir.
– Você de novo?
– O que aconteceu ontem?
– Eu vou até aí te contar.
– Não.
– Por que não?
– Não quero você na minha casa.
– Então fica sem saber. – Ficamos em silêncio por alguns segundos e eu suspirei.
– Tá bom, pode vir. – Desliguei o telefone e me deitei no sofá. Não tinha se passado nem cinco minutos e bateram à porta. Não era possível que fosse Dave, a casa dele não era tão perto assim da minha. Levantei e abri a porta. Dijon estava parado sorrindo para mim.
– Olá! – Ele disse me abraçando. – Como você tá?
– Bem e você?
– Estou bem.
– Entra. – Pedi e indiquei o sofá para que sentasse.
– Como você tá levando a vida? – Ele bateu no assento vago ao seu lado e me sentei.
–Ah, só o que você já sabe. Perdi o emprego por culpa do Mustaine e estou tentando sobreviver.
– Todo mundo perde o emprego por culpa dele.  – Nós rimos. Dave abriu a porta violentamente e gritou:
– CHEGUEI! – Ele tirou o sorriso do rosto e ficou encarando Dijon.
–Claro, pode entrar. Sinta-se à vontade.– eu disse irônica, mas Dave me ignorou.
– O que ele tá fazendo aqui? – ele não gritava, mas estava quase lá.
–Veio me ver. – eu disse me aproximando dele.
– Não era para você estar falando com ele.
– Por quê?
– Ele é o inimigo. – Dijon deu uma gargalhada alta e nós o encaramos.
–Relaxa, cara.
– Dave, você é patético. – eu o empurrei na direção do sofá e ele se sentou. Debrucei-me sobre o parapeito da janela e chamei Dijon.
– Vocês estão tendo alguma coisa?
– Não, claro que não. – ri. – Ele só deve estar ficando maluco mesmo.
Toda vez que olhávamos para Dave, ele estava nos encarando de cara amarrada. Estava começando a me irritar e Dijon deve ter se sentido incomodado, pois não ficou por muito mais tempo.
– Eu tenho que ir. – ele disse olhando para Dave mais uma vez. – É melhor, antes que o outro ali me ataque. – nós rimos e fomos em direção à porta. – Eu venho te ver de novo. – assenti e acenei para ele. Fechei a porta e sentei ao lado de Dave.
– Pronto, agora você pode falar.
– Agora você pode falar comigo? – ele parecia mais irritado do que eu imaginara.
– Você parece uma criança. – Dave bufou. – Me conta o que aconteceu ontem.
– Agora você vai ficar querendo saber.
– Sério? Você esperou esse tempo todo para não me contar? – ele se levantou para ir embora, mas fui mais rápida e entrei na frente da porta, o impedindo de abrir.– Não vai sair daqui até me dizer o que aconteceu.
– Então vamos ficar aqui por muito tempo. – disse cruzando os braços. Ficamos nos olhando até ele aproximar o rosto do meu. Tapei sua boca.
– O que você pensa que está fazendo?
– Não é óbvio? – ele tirou minha mão de sua boca, pôs a dele em minha nuca e me beijou. Eu não cedi exatamente, mas também não o impedi. Logo depois beijou meu pescoço e eu o empurrei.
– Para!
– Não. – Dave me segurou pela cintura pressionando meu corpo contra a porta e voltou a beijar meu pescoço enquanto eu estapeava suas costas. Entrelacei meus dedos entre seus cabelos, puxei com força e ele gemeu de dor. – É assim que eu gosto. – o encarei e ri.
– Mas é mesmo uma moça.
– Cala a boca. – continuou a beijar meu pescoço e passou a mão na minha bunda, tentou me beijar, mas mordi sua língua e o empurrei.
– Se você se aproximar de mim eu vou gritar.
– Você não vai fazer isso.
– Tenta a sorte. – ele se aproximou. Um passo de cada vez. – Um... Dois... Três. – gritei com toda força que consegui. Dave pôs a mão em minha boca e sussurrou ao meu ouvido:
– Cala... a boca. –senti frio na barriga e me arrepiei ao ouvir sua risada. Ele beijou minha orelha lenta e delicadamente. Puxei sua blusa aos poucos e a tirei. Como você se entrega fácil, Delilah. O beijei novamente e arranhei suas costas enquanto ele apertava minha nuca. Uma voz em minha cabeça dizia que eu deveria bater nele, morder ou qualquer coisa que o fizesse parar, mas meu corpo dizia o contrário. Dave puxou meu cabelo, inclinando ainda mais minha cabeça, pôs a outra mão em meu seio enquanto eu chupava sua língua. Ele desceu beijando do meu pescoço até meus seios e os apertou. Gemi baixo ao seu ouvido e mordi sua orelha. Bateram à porta.
– Dave... – eu disse baixo. Dave agiu como se nada tivesse acontecido, estava abaixando um lado da minha blusa e beijando meu ombro. – Dave, eu tenho que atender.
– Não. – ele me imprensou contra a porta enquanto procurava o fecho do meu sutiã.
– Dave! –o empurrei e ele bufou. Puxei de volta a alça da blusa e abri a porta. – Vovó! – ótima hora para aparecer. – O que você está fazendo aqui? Não sabia que viria. – perguntei a abraçando.
– Tem que avisar agora para visitar minha netinha?
– Claro que não, entra.
– AH, MEU DEUS! QUE É ISSO? – minha avó gritava olhando para Dave, mais precisamente para suas calças. – ESCONDE ISSO, MENINO! E VÊ SE PÕE UMA CAMISA. – Dave a olhava assustado enquanto eu ria. Ela se voltou para mim. – Filha, esse é seu namorado? Você não me disse que tinha um namorado.
– Não, vó. Ele não é meu namorado.
– Tudo bem, filha. Não precisa ter vergonha. Ele é feio, mas se você gosta dele, não tem problema nenhum. – eu acho que ri alto demais, porque os dois me encaravam.
– Ele não é meu namorado, vó. E já estava indo embora, né?
– É. – Dave se abaixava para pegar sua camisa que estava jogada no chão. – Tchau. – ele ficou me olhando, como se esperasse que eu fosse beijá-lo ou algo do tipo.
– Mas não precisa ir embora. – ótimo, agora minha avó queria socializar com ele. – Venham, eu trouxe lanche. – ela disse indo à cozinha. Dave me olhava com um sorriso sarcástico no rosto.
– Cala a boca, babaca.
– Mas eu nem falei nada. – ele respondeu rindo enquanto botava a camisa. Fui para a cozinha e Dave me seguiu, sentou-se à mesa e ficou me olhando.
– Menina, você não come, não? – disse minha avó, que estava olhando minha geladeira. – Vem me ajudar.  – me aproximei dela e pus as mãos sobre a pia.
– O que você quer que eu faça?
– Na verdade, eu só queria falar que ele parece ter um bem grande. – ela sussurrava para mim.
–Um o que vó?
– Você sabe... dote. – me controlei para não rir da cara dela. Minha avó estava mesmo prestando atenção no pinto do Dave?
Ela tirou um bolo de dentro da sacola que trouxe, cortou um pedaço e levou para ele.
– Qual o seu nome menino?
– Dave.
– Dave? Mas que nome de marginal.
– É David, vó. – eu disse me sentando na cadeira de frente para ele.
– David, claro. David de que?
– Mustaine. – Ele respondeu.
– Pelo menos alguma coisa bonita. Agora coma esse bolo, e come tudo pra ver se você deixa de ser tão magricela. – eu ri e Dave me encarou. – Senta ao lado do seu namorado, querida.
– Ele não é meu namorado, vó.
– Não? – Perguntou Dave.
– Não.
– Não é assim que se trata seu namorado. Senta do lado dele, vai. – a essa altura eu já tinha desistido de contrariá-la. Levantei-me e sentei na cadeira ao lado do Mustaine e minha avó sentou de frente para nós. – Quantos anos você tem, David?
– Vinte e dois.
– Nossa, a Delilah é tão novinha. Você sabia que ela é virgem? – senti meu rosto queimar e o cobri com a mão. Dave me olhava, se segurando para não rir.
– Claro. Eu cuido muito bem dela. – ele botou a mão em minha coxa e acariciou. Empurrei-a com força e ele riu.
– Por isso você não tem namorados legais. É tão grossa com eles. Até o David vai te largar se você continuar assim. Vai achar uma menina delicada para cuidar dele.
– Sua avó tá certa. Você não me dá carinho, fica socializando com o inimigo e é selvagem demais. – cruzei os braços e o encarei.
– Não é assim que você gosta? – ele riu.
– Depende da situação.
– Filha, você é virgem? – ignorei-a e respirei fundo.
– Vó, o que você veio fazer aqui?
– O casamento da sua prima é amanhã e você ainda não experimentou o vestido.
– Vestido? – Dave perguntou e nós o ignoramos.
–Eu já disse que não vou, vó. – ela me ignorou e o tirou da bolsa.
– Vá experimentar. – levantei emburrada e olhei para Dave, que riu. – Você fica aqui, menino. – o vestido era longo e azul-marinho, com decote nas costas que ia até quase minha bunda. Depois de muito esforço para que ele passasse por meus peitos, me olhei no espelho e revirei os olhos. – Você está ainda mais linda, minha filha.
– Tá, posso tirar?
– Mas e seu namorado? Não quer que ele veja?
– Pra que?
– Tudo bem, então. Tire. – tirei o vestido, o joguei em cima da cama e voltei para a cozinha.
– Ué, cadê? Eu sou o namorado, tenho que ver também.
– Vai ficar querendo. – mostrei a língua pra ele, que riu.
– Eu disse a ela para te mostrar, mas sabe como a Delilah é. – me sentei ao lado dele e apoiei os braços sobre a mesa. – Filha, deveria levá-lo ao casamento. – ela não podia ter dito isso. Não, tudo menos isso.
– Ele não tem tempo.
– Quem disse? – indagou Dave.
–Eu estou dizendo.
– Então você vai? – minha avó perguntou animada.
– Mas é claro. – ele disse ao tentar me abraçar.
– Já tá na hora de você ir embora, não acha? – perguntei o encarando com raiva. Dave olhou para o relógio de parede e suspirou.
– Parece que sim.
– Arrume um terno, David. Não quero você no casamento com essas blusas esquisitas que vocês têm.
– Claro. – ele estava em pé me olhando. – Vem comigo até a porta, amor?
– Por que, suas pernas estão quebradas? Ah, não estão. Quer que eu as quebre para você? – minha avó me encarava em reprovação. Levantei-me e o puxei pelo braço até a porta.
– Que horas eu venho te buscar amanhã?
– Eu não vou, muito menos você. – ele riu.
– Claro, porque sua avó não vai te obrigar a ir. – respirei fundo. Ele tinha razão, eu seria obrigada a ir, e se fosse para aturar tudo aquilo, por quê não com companhia?
–Cinco da tarde. E não se atrasa.
– Não vou. – Dave já estava no corredor. Passou a mão em meu rosto e se aproximou para me beijar, mas eu virei e ele acabou beijando meu cabelo. – Agora pouco você estava gemendo ao meu ouvido, mas não me dá um beijo? – revirei os olhos e bati a porta na cara dele. A última coisa que eu precisava agora era que ele percebesse que eu tinha ficado com vergonha.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Capítulo 8 - Before it's mortification, now let the torture begin!

Estava sentada na cadeira atrás do balcão da loja, ouvindo Rock of Ages do Def Leppard em meu toca fitas. A música estava alta o suficiente para que eu não ouvisse qualquer um que falasse comigo. Estava distraída cantando quando ouvi um barulho alto e me assustei. Dave tinha batido no balcão com força para chamar minha atenção.
O que você está fazendo aqui? – Tirei o fone do ouvido e me levantei.
Vim comprar um disco, o que mais poderia ser? – Revirei os olhos.
Tanto faz.
Você não deveria ser gentil comigo? – Ele provocou e eu sorri irônica em resposta.
Em que posso ajudá-lo, senhor?
Eu quero o Led Zeppelin II.
Já tentou procurar na letra L?
Eu não quero procurar, quero que você procure para mim. – Ele me encarava sorrindo.
Filho da puta. – Andei pela loja com Dave atrás de mim.
Vi você no show ontem.
Que bom, sinal de que tem olhos. – Eu procurava o disco para ele.
Que sorte a sua, trabalhando em uma loja de discos.
Claro, muita sorte. Tenho que trabalhar duas vezes mais pra ganhar menos do que antes. Que sorte a minha. – Ele riu. – É tudo culpa sua. – A essa altura já estávamos no balcão e eu segurava o disco.
Você é Dave Mustaine. – Scott, meu chefe, estava atrás de mim. Eu não sei por quê, mas ele era um fã maluco de Metallica e achava que todos precisavam saber disso. Além de idolatrar Dave, que para a maioria dos adultos de sua idade era só mais um adolescente babaca metido à rebelde. Coloquei o disco na sacola e entreguei ao Dave.
Sim, e ele já estava indo embora, né?
Isso não é jeito de falar com os clientes, principalmente se ele é Dave Mustaine. – Olhei para ele e em seguida para Dave, que riu. Ele só podia estar brincando com a minha cara.
Seu chefe tem razão. – Dave disse me entregando o dinheiro.
Vai se foder, Dave. Vai embora antes que eu perca outro emprego por sua causa. – Ele apertou a mão de Scott e saiu da loja acenando para mim.
Dave Mustaine apertou minha mão. Ele apertou minha mão. – Disse Scott voltando para pequena sala no final da loja.
De onde o conhece? – Perguntou Bonnie, que tinha acabado de se aproximar de mim.
Trabalhei pro empresário dele.
Vocês são amigos?
Não. – Amiga de Dave Mustaine? Não, muito brigada.
Então vocês transaram? – Mas que tipo de pergunta era essa? Bonnie parecia bem abusada pro meu gosto.
Não.
Não?
Não. – Me sentei na cadeira e botei de volta meus fones de ouvido. Bonnie ficou me olhando por alguns segundos e depois me cutucou e eu tirei os fones. – Pois não?
Você tem que trabalhar.
Eu estou trabalhando. – Ela colocou uma caixa no meu colo.
Chegaram mais discos, me ajuda a arrumar.
Enquanto arrumávamos as prateleiras ela ia me perguntando sobre as músicas que gosto e vice-versa. Acabamos nos dando bem e passamos o resto do expediente conversando. Quando deu oito horas da noite nós fechamos a loja. Fui para casa o mais rápido que pude e tomei banho. Estava exausta, precisava dormir. Mal me joguei na cama e bateram à porta. Levantei de mau grado e  me arrastei para atender. Era Ellefson que sorria como uma criança que acabara de aprontar.
Oi. – Eu disse. Ele me beijou e entrou.
Vai se arrumar. – Fechei a porta e fiquei olhando para ele. – Delilah, por mais que você fique sexy nesse shorts, precisa se arrumar logo porque eles acham que estou comprando cerveja. – Ri.
Eles quem? Para onde vamos?
Festa. Anda logo! – Fui para o quarto e ele me acompanhou. Abri o guarda-roupas, procurava uma calça limpa no meio de uma pilha de roupas. – Você é tão desorganizada. – Ele ria e debochava de mim.
Pode me dar licença? Obrigada. – Eu o empurrei para fora do quarto e fechei a porta. Não achei nenhuma calça limpa, teria que ir de shorts. Eu realmente precisava lavar minhas roupas. Como se já não bastasse procurar por uma calça, teria que cheirar minhas blusas até achar uma limpa, ou quase isso. Vesti a do Jimi Hendrix e meu coturno. Ouvi Ellefson bater na porta.
ANDA LOGO, DELILAH.
Pronto, querido. – Disse irônica ao abrir a porta.
Ele parou no caminho para comprar cerveja e seguimos para a festa. A casa estava cheia e dava para ouvir a música do lado de fora.
– Narração do Dave –
Eu estava jogado no sofá com um copo de cerveja na mão, prestando atenção na conversa dos meninos que estavam ao meu redor.
– Mas que porra! – Tinha pensado alto demais. Eles pararam de falar e me encararam. Tinha visto Ellefson entrar acompanhado de Delilah e se aproximando de nós.
– Achei que fosse comprar cerveja. – Disse Mike.
– O que ela está fazendo aqui? – Ambos me encararam mas não responderam.
– Gente, essa é a Delilah. Delilah, esses são John, Mike, Jack, Tyler... E o Mustaine você já conhece. – Disse Ellefson apontando para cada um de nós. Ele entregou o engradado de cerveja para Jack, que o levou para a cozinha. Fiquei observando Delilah, ela estava de shorts e eu não conseguia parar de olhar suas coxas. Ela deve ter percebido, pois quando a olhei ela estava me encarando.
– Oi. – Ela disse. Não respondi e olhei para o outro lado. Jack voltou da cozinha e entregou um copo de cerveja para Delilah e outro para Ellefson.
 Ellefson sentou no sofá e Delilah sentou entre nós.
 – Cadê o Greg? – Delilah Perguntou.
– Foi apresentar umas meninas pro Lee. – Respondi.
– Eu não falei com você. – Ela disse me encarando. – Quem é Lee? – Continuou.
– O baterista. – Ele respondeu, passou um dos braços em volta dela e sussurrou algo em seu ouvido, os dois começaram a rir e desviei o olhar. Eles ficaram assim por um tempo até Mike perguntar:
– Vocês estão namorando? – Delilah riu e olhou para Ellefson.
– Não. – Ela respondeu. Mike e Ellefson começaram a conversar  enquanto Delilah observava. Pus uma das minhas mãos em suas costas e ela me olhou, acariciei-a e senti a mão de Ellefson. Tirei a minha imediatamente e eles me olhavam rindo. Olhei para o outro lado e bebi a cerveja, os observei de rabo de olho e pude ver Ellefson tentando beijá-la. Ela virou o rosto e sorriu, automaticamente sorri  também. Mesmo ela tendo recusado, Ele continuava insistindo e aquilo me incomodava. Levantei e fui em direção à porta, e antes que me afastasse o suficiente pude ouvir Mike falar:
– Você quer mais cerveja, Delilah?
 Fui para o lado de fora e me encostei na parede, tirei o maço de cigarro do bolso e acendi um. Por que Ellefson a tinha trago? Tinham tantas outras garotas lá dentro com quem ele poderia transar, por que logo ela? Não sei por que me incomodava tanto, mas não conseguia parar de pensar no dia em que os vi transando.
O falatório vindo de dentro da casa ficava cada vez mais alto e em pouco tempo eles já estavam  gritando. Fiquei curioso e fui ver o que era, entrei e vi Delilah e Mike em cima da mesa de centro com todos ao seu redor, inclusive Ellefson que os observava rindo. Ela estava sem blusa e Mike  a segurava pelos seios enquanto rebolava ao ritmo da música. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo , a Delilah nunca faria uma coisa dessas, pelo menos não sóbria. Me aproximei de Ellefson e Tyler e perguntei:
– Que porra vocês deram pra ela?
– Por que acha que demos alguma coisa? Ela não é sempre assim? – Perguntou Tyler. O  encarei com raiva.
– Que porra você deu pra ela? Fala logo.
– Calma, cara. Cerveja com ácido.
– Ta maluco? Ela é menor de idade!
– Não é nada, ela tem 18. – Disse Ellefson.
– Foda-se, ela nem pode beber ainda. – Me aproximei da mesa e puxei Delilah pelo braço. Eles reclamavam aos gritos. – Vou te levar pra casa. – Tirei minha jaqueta e pus sobre seus ombros.
– Mas eu não quero ir para casa. – Ellefson pôs a mão em meu ombro e disse:
– O que você ta fazendo? – O empurrei  e segurei Delilah pela  cintura.
– O que você já deveria ter  feito. – Tateei o bolso à procura, sem sucesso, das chaves do carro. – Delilah. – Disse a segurando pelos ombros. – Eu já volto, não sai daqui.
– Eu quero mais cerveja. Mike me dá mais cerveja.  – Segurei seu rosto e acariciei em seguida. – Não sai daqui, por favor.
 Fui até a cozinha. A chave só poderia estar em um lugar. Abri a geladeira e olhei em meio as cervejas e lá estava ela. Peguei-a e voltei para sala, mas Delilah não estava mais lá. Vi John e Ellefson conversando e me aproximei.
– Cadê a Delilah?
– A dos peitões? Mike levou ela pra conhecer a casa. – John respondeu rindo.
– Filho da puta! – Subi as escadas correndo.  Gritava por Delilah no corredor e abria todas as portas que via pela frente. A ouvi rir e gemer ao mesmo tempo, abri a porta e vi Mike deitado por cima dela chupando seu seio. Não sabia porque, mas senti uma vontade imensa de bater nele. O puxei pela camisa e empurrei para longe de Delilah. Arrumei seu sutiã e a puxei pelo braço. – Eu não disse pra você não sair de lá? – Eu já estava quase gritando, mas Delilah não parava de rir.
– O QUE VOCÊ TA FAZENDO, CARA? – Mike me empurrou. –  VOCÊ TA ESTRAGANDO TUDO, SAI DAQUI! – Dei um soco em seu nariz, peguei Delilah pelo braço e a arrastei pelo corredor. Estávamos descendo as escadas, quando ela sussurrou em meu ouvido:
– To excitada Dave. – A olhei e ela estava mordendo o lábio, a empurrei contra a parede e prensei  meu  corpo contra o dela.
– Não provoca, Delilah. – Ela riu e eu fechei  os olhos. Respirei  fundo e a peguei  pela mão,  a levei até o carro e Ellefson abriu a porta para me ajudar. Fiquei imóvel o encarando.
– O que foi? – Perguntou Ellefson.
– O que você pensa que tá fazendo?
– Te ajudando.
– Sai daqui, você ja ajudou demais trazendo ela pra cá. – Pus Delilah sentada no banco do passageiro e olhei para Ellefson, que disse:
– Eu não vou deixar você transar com ela. – Quando eu estava prestes a responder, ouvi Delilah gemer de dor. Segurei seu rosto e a olhei nos olhos.
– Você ta bem? – Ela estava mais chapada do que eu imaginei, porque ela não parava de rir. Fechei a porta do carro e me virei para Ellefson.
– Você acha mesmo que eu transaria com ela nesse estado? – Ele não respondeu. – Vou levar ela pra casa. – Entrei no carro, mal viramos a esquina e Delilah já estava me provocando de novo. Ela passava as pontas dos dedos pelo meu rosto enquanto beijava meu pescoço. Em seguida botou a mão por dentro da minha camisa e mordeu minha orelha. – Para, Delilah. – Ela voltou a morder minha orelha e sussurrou ao meu ouvido:
– Porque? Você não quer?
– Você tá drogada e vai me fazer bater o carro desse jeito. – Ela riu.
– Então eu te desconcentro? – Ela continuava sussurrando.
– Sim. – Ela tirou a mão de dentro da minha camisa e apertou meu pênis por cima da calça. A olhei e ela estava sorrindo, voltei a olhar pra frente e respirei fundo. Não importava o quanto eu a quisesse e o quanto estivesse excitado, tinha que me controlar ou acabaria fazendo merda.
– Eu te deixo excitado Mustaine? – Sussurrou mais uma vez e beijou minha orelha, enquanto acariciava meu braço. Eu estava me controlando para não agarrá-la ali mesmo, mas o fato dela estar fazendo de tudo para transar comigo não ajudava em nada. Ela tirou uma de minhas mãos do volante e pôs em seu seio, o apertei devagar e suspirei. Por um momento perdi o controle do carro, que foi parar na outra pista. Botei a mão de volta no volante, sorte que não vinha nenhum carro. Olhei para Delilah e ela estava rindo.
– Para com isso.
– Frouxo. – Ficamos em silêncio por um tempo. Ela estava irritada por eu não lhe dar atenção e começou a cantar algo que não consegui identificar. Nem sei se era mesmo uma música. A olhei pelo canto do olho e ri, ela virou de costas pra mim e continuou cantando, eu olhava para sua bunda quando ela virou de volta. – O que você está olhando?
– Nada. – Respondi rindo.
– Quer me comer agora?
– Não.
– Por que não? Não sou gostosa? – Ela pegou minha mão e pôs em seu seio novamente. Respirei fundo e a encarei.
– Para com isso, garota. Nós vamos morrer por sua causa. –  Parei em frente ao apartamento e ela abriu a porta do carro para sair, mas acabou caindo. Fui correndo ajudá-la.
– Opa! – Ela ria tanto, que tive que rir também. A levei até a portaria a segurando pela cintura.
– Onde está a chave?
– Não sei.
– Fala aonde está a chave, Delilah.
– Já disse que não sei. – Tateei seus bolsos e peguei a chave.
– Você quer pegar na minha bunda?
– Cala a boca. – Abri a porta e botei a chave na mão dela. – Agora sobe e dorme. Não sai de casa, entendeu? – Virei as costas e fui em direção ao carro, quando olhei para a portaria Delilah estava jogada na escada. Revirei os olhos e fui levantá-la. – Será que eu vou ter que fazer tudo no seu lugar?
– Não quero ir para casa, Dave.
– Mas você já chegou até aqui, vamos. – Passei um de seus braços por volta dos meus ombros e meu braço em volta de sua cintura e a ajudei a subir.
– Não quero ficar sozinha, to com medo de derreter. – Paramos de andar e a olhei, rindo.
– Como é?
– Não me deixa sozinha. – Ela me abraçou e eu senti vontade de não soltá-la nunca mais. Ficar ali e sentir seu cheiro e as batidas aceleradas de seu coração.
– Tá bom. –  Acariciei sua cabeça e continuamos a subir. Chegamos a porta do apartamento e tirei a chave da mão dela. Entramos, tirei minha jaqueta de seus ombros e a sentei na cama. Tirei seus coturnos, a empurrei pelos ombros para que deitasse e a cobri.
– Você vai embora?
– Vou. Promete que não vai sair daqui? – Acariciei seu rosto.
– Você disse que não ia me deixar sozinha.
– Eu sei, mas tenho que ir. Promete?
– Tá.
– Tchau, Delilah. – Me virei para ir embora e ela me chamou.
– Dave, você gosta de mim? – Olhei-a rindo.
– Cala a boca. – Voltei para o carro e encostei a cabeça no volante. Eu não podia voltar à festa ou iria acabar batendo no Mike de novo. Fui para casa e me joguei na cama sem trocar de roupa. Acabei adormecendo pensando na Delilah.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Capítulo 7 - If there's a new way I'll be the first in line. But it better work this time.

 Tinha sido demitida há 3 dias e tentava ao máximo não pensar no que acontecera entre Dave e eu. Acordei bem cedo, precisava arrumar outro emprego e era pra já. Passei os 2 últimos dias procurando, andei muito e passei por tantos lugares que perdi a conta. Bares, restaurantes, lojas... Nada. Ninguém precisava de funcionários. Estava perto da hora do almoço e minha barriga roncava implorando por comida, e o cheiro que vinha dos restaurantes não ajudava em nada. Precisava comer antes que acabasse desmaiando. Entrei em um pequeno bar-restaurante no final da rua e sentei na primeira mesa vaga que eu vi.
Logo vieram me atender e a coisa mais barata que tinha era hambúrguer. Mas que coisa patética, não tinha nem dinheiro para almoçar direito, fiz meu pedido e o garçom disse para esperar, apoiei os cotovelos sobre a mesa e a cabeça sobre as mãos. Eu estava com medo e confusa, estava quase chorando quando ouvi uma voz familiar chamar meu nome, olhei e sorri, era Greg.
– Tudo bem? – Ele perguntou pondo a mão em meu ombro.
– Se estar com raiva de Dave Mustaine é estar bem, então sim estou bem.  – Ele se sentou na cadeira à minha frente. – Seu amigo está afim de acabar com a minha paciência.
– Ele não fez por mal, só estava drogado e nervoso. Não queria prejudicar você, tenho certeza.- Ignorei completamente o que ele disse.
– Ele foi até a minha casa naquele dia. Agora me diz, pra quê? Só para me irritar mais?
– As vezes não sei o que se passa na cabeça do Dave. – Ficamos em silêncio por um tempo. Eu suspirei e o garçom trouxe o hambúrguer e a Coca-Cola.
– E o senhor, vai querer alguma coisa? – Ele perguntou para Greg.
– Uma cerveja, por favor. – O garçom saiu de perto de nós e Greg me observava enquanto eu comia. – Dave demitiu o Dijon. – Quase me engasguei com a Coca-Cola.
– O quê? Por que? Fico longe por três dias e é isso que acontece?
– Pra falar a verdade, eu não sei direito. Dave é complicado demais. – O garçom trouxe a cerveja e pôs na mesa.
– Ele é babaca. – Greg riu.
– Já conseguiu outro emprego?
– To procurando já faz 2 dias... Engraçado que é só quando eu preciso que não tem.
– Por que não disse antes? Conheço o dono de uma loja de discos, posso conversar com ele, só você terminar de comer e eu te levo lá... Se você quiser,  é claro. – Eu sorri. – Não é grande coisa, não vai ganhar tanto quanto com o Steve mas...
– Eu quero ir sim. – Terminei de comer o mais rápido que pude e ele riu do meu desespero.
– Vai querer mais alguma coisa? – Greg me perguntou e eu neguei com a cabeça. – Tudo bem então. – Ele sorriu e pegou a carteira. – A conta por favor. – Disse ao garçom. Depois de brigarmos pra ver quem pagaria, eu finalmente cedi. Entramos em seu conversível e ele me levou até a loja. Ele estava quase implorando ao Dono da loja, Scott, para que me deixasse trabalhar lá.
– Não sei, não quero qualquer um trabalhando aqui, Greg. – Ele disse.
– Acha mesmo que uma garota com a blusa do Black Sabbath é qualquer um? – Greg disse e eu ri. Scott ficou me observando por um tempo e suspirou.
– Tudo bem. Desde que ela não se atrase e respeite os clientes. – Porque todos me falam isso? Eu sou educada, um pouco, mas sou.
Greg e eu  nos entreolhamos e rimos. Ser pontual não era exatamente meu forte.
– Você começa amanhã. – Ele fez sinal para uma garota loira, que estava no canto da loja cantarolando, e ela se aproximou de nós. Essa é Bonnie. – Ele disse pondo a mão em suas costas. – Ela abre a loja e você vai ajudar. Chegue às 9, está bem? – Bonnie me cumprimentou e saí da loja acompanhada por Greg, ele sorria pra mim.
– Obrigada, de verdade.
– Tudo bem, não precisa. Quer que eu te leve em casa?
– Posso ir andando, obrigada. Tchau.
– Tchau. – Virei as costas e Greg me chamou de novo. – Delilah. – Me virei para ele. – Vamos fazer um show hoje, no mesmo bar de antes. Aparece por lá. – Assenti com um sorriso. – Até mais tarde, então.
Cheguei ao bar e o show já tinha começado. Eles tocaram por mais uns 30 minutos. Vi Greg e Ellefson se aproximando de mim.
– O que você achou? – Perguntou Greg.
– Foi péssimo.
– Foi tão ruim assim? – Ellefson perguntou, eu ri e passei a mão nos cabelos dele bagunçando-os.
– Deve ser o novo baterista. – Disse Greg.
– E qual é o nome dele? – Perguntei.
– Eu esqueci. – Respondeu Greg. Eu e Ellefson rimos. Sentei no banco próximo ao balcão.
– Vamos sentar lá com o Dave. – Ellefson disse apontando para ele. Olhei e Dave me encarava com raiva.
– Prefiro ficar aqui.
– Então vou ficar aqui. – Os dois se sentaram ao meu lado e Ellefson pediu 3 cervejas. Olhei pro meu copo e em seguida para Greg.
– Como você conseguiu aquele carro? – Ele riu.
– Resultado de comer a filha do dono de uma concessionária. Ela me deu um carro e uma boa transa e eu um pé na bunda dela.
– Bons negócios cara. – Disse Ellefson.
– Até você Greg? – Rimos.
– Você não sabe do que eu sou capaz.
– Steve estava certo, nenhum de vocês presta.
– Vocês são muito pegajosas. – Ellefson se defendeu. Olhei para ele, que riu. – Você não conta, não é exatamente uma mulher.
– O que você quis dizer com isso? – Quanto mais ele tentava se explicar mais complicava.
– Só toma como um elogio, Delilah. Ele quis dizer que você é uma espécie superior. – Disse Greg.
– Exatamente! Não me mate. – Todos rimos.
Passei o resto da noite bebendo e conversando com eles. Entrei e saí de lá sem nem falar com o Mustaine. Ele tinha me visto, podia muito bem ter vindo falar comigo. Não sei por que me olhou com raiva, afinal o errado era ele.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Capítulo 6 - Betrayed by lust

Tinha acabado de chegar no estúdio e já começaram a gritar.
– VOCÊ VIU O DAVE POR AÍ? – Gritou Dijon. Me assustei e me afastei um pouco.
– Não precisa gritar. Eu não vi não. Por quê?
– Ele sumiu ontem à noite. Foi pro camarim e não voltou mais. – Disse Greg.
– Chegou a ver ele depois do show? – Perguntou Dijon. Eu e Ellefson nos entreolhamos.
– Não. – Respondi.
– Eu vou ligar pra ele de novo. – Disse Steve. Ele saiu. Greg estava andando de um lado para o outro.
– Ah meu deus, será que o Mustaine morreu? – Ele disse.
– Cala a boca. Que merda você está falando? Deixa de ser babaca. – Disse Ellefson. – Ele só deve estar drogado por aí.
Steve voltou e sentou no sofá que estava ao meu lado.
– Ninguém atende, não adianta nada. Ele nem deve estar em casa.
– Ele vai aparecer. – Foi só eu falar que Dave entrou pela porta, sem falar com ninguém. Steve levantou do sofá e foi em direção ao Dave.
– Onde você estava? – Perguntou.
– Não é da sua conta.
– Cara eu pensei que você tivesse morrido. – Disse Greg. Dave riu e o abraçou.
– To aqui, cara. – Ele bateu nas costas em suas costas.
– Que bom, cara, que bom. – Disse Greg.
– Você está drogado? – Ellefson perguntou ao Dave.
– Não estou drogado. – Dave respondeu e começou a rir estérica e sarcasticamente.
– Claro que está, olha pra você. – Dave veio em minha direção e me empurrou para que eu saísse do caminho e se sentou no sofá.
– Você podia ter ao menos pedido licença. – Reclamei.
– Você deveria me agradecer por eu não contar pra ninguém. – Ele disse. Ellefson olhou para Dave e depois para mim. Todos os outros estavam olhando Dave com um ponto de interrogação na testa.
– Do que você está falando? – Perguntou Steve.
– Vocês não sabem ainda? – Disse Dave. – A Delilah, ela... – Ele foi interrompido.
– CALA A BOCA, SEU MERDA. – Ellefson gritou e todos o encararam. Dave levantou.
– QUEM VOCÊ PENSA QUE É PRA FALAR DESSE JEITO COMIGO? – Dijon se aproximou deles e entrou na frente do Dave.
– Fica calmo, cara.
– ELE ESTÁ DROGADO! VAI PARA CASA DORMIR. – Gritou Ellefson novamente.
– O QUE É? SÓ PORQUE COMEU A DELILAH ESTÁ SE ACHANDO AGORA? – Filho da puta, porque ele tinha que abrir a porra da boca? Todos estavam encarando a mim e ao Ellefson.
– Vem comigo, Delilah. – Disse Steve. Ellefson segurou o braço do Steve.
– Dave está drogado, você vai mesmo acreditar no que ele diz?
– Mas continua sendo verdade. – Disse Dave.
– VAI SE FODER! – Gritou Ellefson.
– Vamos Delilah. – Disse Steve, ignorando os meninos e se soltando de Ellefson. Antes de sair olhei para Dave e ele estava rindo. Saímos da sala.
– O que o Mustaine disse é verdade? – Ele perguntou. Eu não consegui responder, não queria acabar sendo demitida. – RESPONDE DELILAH. – Ele gritou.
– Não que seja mentira. É mais verdade do que eu queria que fosse.
– Eu te avisei, mas você fez mesmo assim.
– Mas... Steve, eu estava bêbada. Juro que não vai acontecer outra vez.
– Não vai ter outra vez porque você está demitida. – Eu tinha perdido o melhor emprego que tive por culpa de um drogado e egocêntrico. Não conseguia acreditar que ele tinha feito isso. Estragou tudo. Abaixei a cabeça e concordei.
– Vou pegar minhas coisas. – Eu disse e voltei para junto dos meninos. Peguei minha mochila e comecei a tirar os papéis do Steve de dentro e os botar no sofá. Botei a mochila nas costas e me despedi do Greg e do Ellefson. Dijon me olhava com raiva, por isso decidi não falar com ele.
– Você não vai falar comigo? – Perguntou Dave.
– SEU VEADO. FILHO DA PUTA. DESGRAÇADO. INFELIZ. CANALHA. BABACA. VOCÊ É UMA BIXA. SEU IMBECIL. TOMARA QUE VOCÊ QUEIME NO QUINTO DOS INFERNOS. SEU BOSTA. – Saí de lá e Ellefson me chamou. Ignorei, eu não queria ter que olhar pra nenhum deles agora.
Fui direto pra casa, joguei a mochila em cima do sofá e me joguei na cama. Estava chateada e arrependida. Com vontade de gritar. O telefone estava tocando e eu não queria falar com ninguém. Puxei o fio da tomada e gritei sobre o travesseiro. Acabei dormindo. Acordei assutada com batidas à porta.
– NÃO TEM NINGUÉM EM CASA, VAI EMBORA. – Gritei. E é claro que quem quer que fosse, não desistiu. Bateu de novo, e mais forte dessa vez. – MAS QUE PORRA, NÃO QUERO VER NINGUÉM. – tornaram a bater na porta. – JÁ VOU CARALHO. – Me dei por vencida e abri a porta, era Dave.
– Pensei que não tivesse ninguém em casa. – Ele provocou. Empurrei a porta, mas fui empedida de fechá-la pelo pé de Dave. – Eu quero conversar com você.
– Não temos nada pra conversar. Agora some. – Tentei fechar a porta novamente, mas ele a segurou. Empurrou a porta e eu fui junto, ele entrou em meu apartamento e me encarou. – O que você quer?
– Eu posso sentar?
– Não.
– Tudo bem então. – Ele se sentou mesmo assim.
– Sai da minha casa. – Ele me puxou pelo braço para me sentar junto à ele.
– Eu sei que você ta com raiva de mim.
– Raiva? É mais do que isso.
– Tá, tanto faz. Eu vim te pedir desculpa.
– E?
– Me desculpa?
– O que?
– Me desculpa.
– Não to entendendo, o que você disse?
– ME DESCULPA. – Ele gritou. – Eu não devia ter falado aquilo.
– Porque?
– Porque a vida é sua e eu não devia ter me metido. E você dá pra quem quiser. – Revirei os olhos.
– Exatamente. Agora você pode ir embora.
– Você não respondeu se me desculpa ou não.
– Eu não posso falar com você agora.
– Porque? Tem horário marcado?
– Tenho que ir dormir cedo pra acordar cedo e procurar um emprego, já que você fez o favor de me livrar do último.
– Eu já pedi desculpas.
– É, eu ouvi.
– Agora você tem que me desculpar.
– Quem disse que eu tenho obrigação de fazer isso?
– Eu não vim aqui à toa.
– Então faça alguma coisa. – Ele ficou me olhando e veio se aproximando de mim lentamente, me pegou pela cintura e me beijou. No começo, não correspondi e tentei me soltar, mas acabei cedendo quando inalei o perfume dele. Segurei-o pela nuca e ele passou a língua sobre a minha, nos beijávamos lentamente e eu apertava sua nuca. Ele me apertou contra o corpo dele com força e chupou meu lábio inferior e eu suspirei. Dave sorriu e se afastou de mim, ele estava andando em direção à porta e o chamei, mas ele não me deu bola, continuou andando. Chamei novamente e ele ignorou. Suspirei, e quando ele chegou à porta, o chamei novamente. Ele parou sem virar para me olhar. – Eu te desculpo.

Capítulo 5 - The Scorpion


Cheguei ao estúdio e eles estavam bebendo e ouvindo as demos.
– Desliga. – Eu pedi e eles ignoraram. Revirei os olhos e desliguei a música. – Oi. – Eles me encararam com raiva. – Consegui um show pra vocês. – Olhei para Steve. – Sozinha.
– É mentira sua. – Disse Steve. Joguei o papel em cima da mesa de mixagem e Dave o pegou.
– É verdade, cara. – Ele disse surpreso. Dijon tomou o papel da mão dele.
– Inacreditável.
– Mas essa porra é hoje a noite! – Disse Greg.
– Tá vendo, não faz nada direito. – Disse Steve.
– E qual o problema de ser hoje a noite? – Perguntei.
– Nós não temos vocalista. – Disse Ellefson.
– Qual o problema?
– Qual parte do vocalista você não entendeu?
– Dave canta. – Sugeri. Todos me olharam como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo.
– Você deve estar brincando com a nossa cara. – Disse Dijon.
– Dave não canta. – Disse Greg.
– Todo mundo sabe disso. – Dessa vez foi Steve.
– Canta sim, eu ouvi ontem. – Olhei pro Dave e ele estava assustado.
– Você deve estar louca. – Ele disse.
– Ela não ta normal. – Disse Ellefson. Eu tinha feito um favor em arrumar o show e eles estavam arrumando empecilhos, me estressei.
– ENTÃO VAI PRO SHOW E TOCA ESSAS PORRAS DE DEMOS PRA VER SE ALGUÉM VAI FICAR PRA OUVIR. – Gritei.
– Ela tem razão, não da pra ser um show instrumental. – Disse Steve. Todos ficaram encarando o Dave.
– Olá. – Ele disse.
– PERA AÍ. – Gritou Dijon. – Onde você ouviu Dave cantando?
– No carro, quando ele me levou para casa depois que todos vocês nos abandonaram. Eu ouvi, não to ficando louca. – Dave riu do que eu disse e Ellefson o olhou.
– Você vai cantar. – Disse Ellefson com o dedo quase encostando na cara de Dave.
– Mas... Calma. – Disse Dave.
– Não dá pra ter calma, é hoje a noite. – Disse Steve. Greg pegou a guitarra e olhou para Dave.
– O que você está esperando? – Ele perguntou e entrou na cabine. Os outros foram atrás e Dave ficou me olhando.
– Vai logo. – O empurrei em direção à cabine.
– Você me paga. – Ele disse pra mim. Ri e o empurrei de novo. Eles passaram o dia ensaiando.
Eram dez horas da noite e eles estavam arrumando as coisas no palco do bar. Eles estavam nervosos, principalmente Dave, que não parava de dizer que eu estava louca. Steve ficava andando atrás dele de um lado para o outro dando apoio moral, que eu acho que não estava adiantando muita coisa. Dave tinha me xingado mais uma vez.
– Você vai conseguir Dave. – Steve dizia. – Só manter a calma e... – Ele o interrompeu.
– Cara, cala a boca. Você está me deixando irritado, vai pegar a merda da minha salvação que tá na mochila. – Disse Dave. Só poderia ser droga, claro. Que outra coisa o “salvaria”? Eu observava tudo que ele fazia, achando graça. – Você tá adorando tudo isso né?
– Você deveria estar feliz. Afinal, sua vingança contra o Metallica tá começando a dar certo. – Ele bufou e Steve chegou com quatro cigarros de maconha entregando pra cada um dos meninos e vindo em minha direção depois. – Eles não deveriam se drogar.
– Cala a boca, você não sabe de nada. – Ele me respondeu. Fui me sentar no balcão.
O show começou um pouco depois e eles tocaram todo o repertório, o que incluía Mechanix, que era uma versão mais rápida e intensa da música que Metallica gravou com o nome de The Four Horsemen. Tocaram também alguns pedidos que o público fez. Assim que o show acabou os meninos vieram falar comigo e eu os parabenizei. Ficamos bebendo e depois Ellefson me levou para o que disseram ser um camarim, mas não passava de uma dispensa um pouco mais arrumada.
– Porque você me trouxe aqui? – Perguntei.
– Você é muito bonita, sabia? – Ele disse se aproximando de mim.
– Obrigada. – Ele pôs as mãos na minha cintura.
– E muito gostosa também.
– Obrigada de novo, eu acho.
Ele sorriu e beijou meu pescoço, minha orelha e logo depois minha boca. Subiu a mão direita pela minha cintura até meu seio e apertou. Eu já estava com as mãos por dentro da camisa dele e levantava devagar. Ele me soltou para tirar a blusa e eu abri o zíper da calça dele. Voltamos a nos beijar e ele levantava minha blusa. Empurrei-o devagar e tirei a blusa enquanto ele beijava meu pescoço e apertava minha cintura. Ele passou a mão pelo meu corpo até chegar nas costas, desabotoou meu sutiã e o jogou no chão, beijou meu seio, chupou meu mamilo enquanto abaixava minha calça, segurei-o pela nuca e apertei sua cabeça contra meus seios, ele me empurrou para a parede e chupou com mais força. Levantei a cabeça dele e sussurrei em seu ouvido:
– Vai com calma. – Eu beijava o pescoço dele enquanto abaixava sua calça, senti ele ficando arrepiado. Ele ficou de joelhos e tirou minha calcinha, subiu beijando minha perna e minha barriga, em seguida beijou meu pescoço enquanto abaixava a cueca. Me segurou pelas pernas e me levantou, as passei por sua cintura. Ele me penetrou de uma vez e nós gememos juntos. Encostei a cabeça na parede e fechei os olhos. Eu gemia alto, enquanto ele penetrava cada vez mais rápido e chupava meu seio. Ouvi barulho da porta e quando abri os olhos vi que era o Dave.
– Mas que porra é essa? – Ele perguntou e riu. Ellefson virou o rosto pra ele deixando meu rosto à mostra.
– Sai daqui, Dave. – Ele olhou pra mim e tirou o sorriso do rosto.
– AH, VAI SE FODER. – Gritou e saiu batendo a porta com força.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Capítulo 4 - Two hearts that shouldn't talk to each other

– Narração do Dave –
Estava encostado na parede fumando e vi Delilah se aproximar de mim.
– Oi. – Ela disse. – Cadê o Steve e os outros?
– Não sei, saí pra comprar cigarro e quando voltei não tinha mais ninguém.
– Está aqui a muito tempo?
– Não muito, vou esperar mais um pouco pra ver se aparecem e depois vou embora.
– Tudo bem, também vou.
Ela ficou ao meu lado por um tempo, depois sentou-se no meio fio e eu ri.
– Vai  ficar aí sentada igual a uma mendiga? – Perguntei.
– Vou, porquê? Quer dar esmola?
– Ah, vou embora. Vai ficar sentada aí?
– Já disse que vou.
– Tá bom.
Virei as costas e me afastei, se ela queria ficar sozinha à noite, problema dela. Cheguei perto do carro e olhei pra trás, ela continuava sentada no meio-fio e chutava algo no chão.
– Porra. – disse em voz baixa.
Eu não podia deixá-la sozinha. Voltei até onde ela estava.
– Porque não vai embora? – Perguntei.
– Não tenho dinheiro.
– Quer carona?
– Não
– Quer dinheiro?
– Não
– Então vai ficar aí?
– Vou. – Sentei ao lado dela. – O que você está fazendo?
– Te fazendo companhia. – Acendi outro cigarro.
– Porque?
– Eu estou tentando ser gentil com você, então cala a boca.
– Mas quem disse que eu quero a sua companhia?
– Porque você é sempre tão chata? – Olhei-a, ela tirou o cigarro da minha mão e ficou olhando por um tempo, achei que poria na boca, mas ela jogou no meio da rua. – Porque você fez isso? – Ela tinha conseguido me deixar com raiva.
– Você não vai fumar perto de mim. – Ela disse me encarando.
– Você deveria me agradecer, porque eu poderia ter ido embora e deixado você aqui sozinha correndo risco de ser estuprada ou sequestrada, ingrata.
– Não preciso de você, nem da sua pena. – Ela ficou observando a rua.
– Eu devia ter deixado você morrer aqui sozinha.
– Se for pra ficar aqui me irritando, acho melhor ir embora. – Virei o rosto pro lado e fiquei fitando o chão. Como essa garota pode ser tão irritante? Eu estou aqui perdendo meu tempo ao lado dela, enquanto poderia estar fazendo qualquer outra coisa melhor, ela deveria deixar de ser tão arrogante.
Ela bufou e eu a olhei.
– Desculpa. – Ela disse.
– Pelo que exatamente?
– Por ter sido estúpida com você. Não que não mereça, mas enfim. – Eu ri.
– Nem quando está tentando ser educada você consegue, impressionante. – Ela ignorou o que eu disse.
– Porque ficou aqui?
– Já disse, para te fazer companhia.
– Ah. – Ficamos em silêncio por um longo tempo, e por incrível que pareça, fiquei constrangido.
– Com tantos empregos por aí, porque resolveu trabalhar pro Steve?
– Preciso de dinheiro para pagar a faculdade de arquitetura, e ele era o que me pagaria melhor.
– Cadê sua família?
– E cadê a sua família? – Ela perguntou, na tentativa de se esquivar.
– Eu saí de casa. Minha mãe era muito religiosa e me pressionava demais. – Ela riu.
– Eu morava com a minha avó, mas saí de casa porque meus tios diziam que eu a extorquia.
– Parece que eles estavam certos, já que agora você não tem dinheiro nem para a passagem de volta. – Ela ficou quieta por alguns segundos, mas acabou rindo.
– É, talvez eles tivessem razão.
– Parece que o Steve não vai mais aparecer por aqui. – Ela se levantou e limpou a calça.
– É, eu vou embora. – Levantei também.
– Deixa eu te levar.
– Não precisa, vou a pé.
– Você ta brincando com a minha cara, né? – Peguei-a pelo braço e a puxei até o carro. – Você vai comigo querendo ou não.
– Você é a pior pessoa que eu poderia conhecer.
– Não vai se arrepender de ter me conhecido. – Abri a porta do carro e ela entrou. Entrei no carro e liguei o som, dei partida.
– Sabe onde é minha casa? – Ela perguntou.
– Sei. – Eu estava mudando as estações do rádio, quando passei por uma que estava tocando Smoke on the Water, do Deep Purple.
– Para! – Me assustei e a olhei.
– O que foi?
– Gosto deles. – Eu ri.
Ela estava cantando, e se tornava menos insuportável e quase delicada, era engraçado. Comecei a cantar junto com ela, mas ela acabou parando e me olhando, olhei pra ela e ri, ela estava sorrindo.
– O que foi? – Perguntei.
– Não sabia que cantava. – Ela riu.
– E eu não sabia que você podia ser tão adorável.
Chegamos em frente ao apartamento e ela saiu do carro e sorriu pra mim. Fiquei observando cada um de seus movimentos, desde que ela pegou a chave no bolso e brigou com a fechadura para a chave encaixar. Por um momento eu cheguei a pensar que ela não era tão desprezível. Gostosa, bonita, engraçada, sedutora... Mas que porra eu to pensando?!

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Capítulo 3 - Public Enemy Number One

Acordei assustada com a buzina seguida por gritos. Eram Dijon e Mustaine me gritando da janela. Olhei e pedi que esperassem. Só deu tempo de escovar os dentes e eles já estavam me gritando de novo. Prendi o cabelo, peguei minha jaqueta, calcei o coturno e desci as escadas correndo.
– Bom dia – Eu disse ao Dijon e ao Steve. Não cheguei nem a olhar para o Mustaine, e acho que ele fez o mesmo.
– Bom dia – Responderam.
Entramos no táxi e o motorista deu partida.
– Pra onde vamos? – Perguntei. Engraçado como eu nunca sabia de nada.
– Eu e Dijon vamos comprar uma bateria, e você e o Dave vão terminar de resolver as coisas do show. – Steve respondeu e me entregou um bolo de papéis. – Vocês só vão precisar levar isso, e pedir pro dono do estabelecimento assinar, confirmando a data e horário. Não é tão difícil. Eu já disse ao taxista onde ele deve deixar vocês. – Enquanto Steve terminava de falar, o táxi parou, e ele e Dijon desceram. – Façam o que eu mandei e vão para o estúdio. – Steve disse enquanto fechava a porta.
O taxista continuou até uma casa de shows escondida, em uma rua sem saída. Descemos do carro e Dave tentou pegar os papéis da minha mão.
– Ei, larga caralho! – Exclamei.
– Você não sabe de nada, vai fazer tudo errado. – Ele disse e tentou pegar os papéis de novo. Eu puxei os papéis pra junto do meu corpo e ignorei o que ele disse.  – Nem tomar banho você tomou. – O olhei, rindo.
– Até a roupa que eu tava ontem você gravou, cara. Que merda hen. – Ele ficou com raiva e virou o rosto para o outro lado e ficou olhando para a rua. – E esse cabelo de mocinha, vai cortar quando?
– No mesmo dia em que você resolver tomar banho. – Respondeu com raiva.
Passaram duas meninas ao nosso lado, cochichando algo sobre o Dave. Ele sorriu pra elas, que atravessaram a rua. Dave olhou pra mim e bufou.
– Vou resolver umas coisas. – Ele disse e saiu de perto de mim. Não olhei pra onde estava indo, lia o contrato que estava em minhas mãos. Quando me dei conta ele estava do outro lado da rua conversando com as garotas, fui até ele e o puxei pelo braço.
– O que você pensa que está fazendo? – Perguntei, quase gritando.
– E quem você está pensando que é? – Ele perguntou debochando de mim.
– Temos que resolver as coisas.
– Eu já estou resolvendo as minhas coisas. – Ele conseguiu se soltar de mim. – Agora você sai daqui.
Eu deixei ele com as garotas e entrei na casa de shows, com raiva. Dave ia me pagar. Pedi para falar com o dono e me indicaram uma pequena sala ao fundo. Entrei de uma vez, sem pedir licença ou me anunciar. Sentei na cadeira e joguei os papéis sobre a mesa.
– Quem é você? – O homem de cabelos pretos e barba grisalha me perguntou.
– Empresária do Megadeth.
– E cadê um dos integrantes da banda?
– Não vieram porque eu vim cancelar o show. – Respondi mostrando os papéis a ele.
– Tem certeza? Para uma banda que só está começando eu vou pagar muito por esse show. – Ri debochadamente.
– Pode cancelar tudo que o Mustaine nem vai pensar em segurar esse dinheiro. – Ele cancelou, e quando estava me entregando os papéis, Dave entrou na sala, sorridente.
– E aí? Já acertou tudo? – Perguntou.
– É, parece que não foi dessa vez. – Disse o homem de aparência assustadora.
Levantei e saí da sala. Pude ouvir Dave perguntar “Porque?”. Logo depois ele veio atrás de mim, gritando e me xingando. Estava abrindo a porta do carro quando Dave segurou minha jaqueta e me puxou para ficar de frente pra ele.
– O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA, SUA DOENTE? – Ele gritou. Puxei minha jaqueta da mão dele e me virei para entrar no carro, mas ele me puxou de novo. – Estou falando com você, sua maldita. – Ri, e ele ficou com raiva. – ME RESPONDE.
– É pecado tratar mal ao próximo, você não sabia? – Ele me largou e socou o carro e eu continuava rindo. Ele me encarou e voltou a gritar. – ME DÁ ESSES PAPÉIS.
– Não. – Os escondi nas costas.
– Então tá. – Ele me agarrou e tentou tirar os papéis de mim.
– SOCORRO! SOCORRO! – Eu gritava. A essa altura todos que passavam já estavam nos observando. Dave Mustaine estava supostamente agredindo uma garota. Ele tapou minha boca para que eu parasse de gritar. E eu mordi sua mão com toda força que consegui juntar.
– FILHA DA PUTA! – Ele gritou.
– Agora pode pegar seus papéis, querido. – Eu rasguei o contrato ao meio e joguei em cima dele.
Ouvi o motorista reclamar e dizer que o taxímetro estava rodando e iríamos pagar tudo. Entrei no táxi e Dave veio logo depois de mim.
– Agora vamos  para o estúdio. – Eu disse ao motorista. Ele mal deu partida e Dave já estava reclamando de novo.
– Tá sangrando. – Ele disse enquanto alisava a mão.
– Foda-se.
– Porque você é tão irritante?
– Foda-se. – Ele me encarava sério.
– Eu vou te foder. – Ri.
– Sonha. Eu não gosto de mocinhas.
– Olha meu pinto pra ver se eu sou mocinha, e aproveita pra fazer um boquete. – Eu o encarava, e quando estava prestes a responder, Dijon abriu a porta do carro e se jogou ao meu lado. Steve entrou logo depois dele e se sentou no banco da frente.
– E o show? – Perguntou Steve. Eu ri.
– O que foi? – Perguntou Dijon.
– Deixa que o Mustaine responde essa.
– O que aconteceu Dave? – Perguntou Steve.
– Não tem mais show. – Respondeu irritado.
– O QUE? PORQUE? – Gritava Steve. Dave me olhou e logo depois voltou a olhar para Steve.
– Porque eu não quis. – Parei de rir imediatamente. Porque diabos ele não tinha me dedurado?
Steve ficou dando esporro em Dave até chegarmos na casa dele. Quando o táxi parou, Dijon desceu e pegou em minha mão para me ajudar a descer. Sorri para ele, e Dave o chamou para entrar.
– Não vou entrar agora. Vou levar a Delilah em casa. – Dave bateu a portar do carro com força, entrou batendo os pés e eu ri.
– Tá rolando alguma coisa entre vocês? – Perguntou Dijon.
– Claro que não. – Respondi.
– Delilah, vai pra casa, e me encontra aqui as sete da noite. Vamos sair todos juntos, temos muito o que fazer. – Disse Steve.
– Não posso mesmo ficar em casa?
– Quer ser demitida?
– Então deixa o Dave longe de mim.
– É só você ficar longe dele. – Bufei e olhei para o Dijon.
– Preciso ir. – Disse.
– Deixa eu te levar? – Perguntou Dijon.
– Não.
– Porque?
– Desculpa Dijon, mas não quero ser comida pelo baterista do Megadeth. – Virei de costas pra ir embora, mas Dijon entrou na minha frente e segurou minha cintura.
– Então eu não te como, só te beijo. – Ri.
– Começa com um beijo, depois você vai ficando excitado e eu não quero ter que resistir a isso. – Ele sorria de orelha a orelha.
– Então você quer?
– Já disse, não gosto de bateristas do Megadeth. – Disse rindo. Fui embora e deixei ele parado, olhando pra mim.