domingo, 3 de fevereiro de 2013

Capítulo 3 - Public Enemy Number One

Acordei assustada com a buzina seguida por gritos. Eram Dijon e Mustaine me gritando da janela. Olhei e pedi que esperassem. Só deu tempo de escovar os dentes e eles já estavam me gritando de novo. Prendi o cabelo, peguei minha jaqueta, calcei o coturno e desci as escadas correndo.
– Bom dia – Eu disse ao Dijon e ao Steve. Não cheguei nem a olhar para o Mustaine, e acho que ele fez o mesmo.
– Bom dia – Responderam.
Entramos no táxi e o motorista deu partida.
– Pra onde vamos? – Perguntei. Engraçado como eu nunca sabia de nada.
– Eu e Dijon vamos comprar uma bateria, e você e o Dave vão terminar de resolver as coisas do show. – Steve respondeu e me entregou um bolo de papéis. – Vocês só vão precisar levar isso, e pedir pro dono do estabelecimento assinar, confirmando a data e horário. Não é tão difícil. Eu já disse ao taxista onde ele deve deixar vocês. – Enquanto Steve terminava de falar, o táxi parou, e ele e Dijon desceram. – Façam o que eu mandei e vão para o estúdio. – Steve disse enquanto fechava a porta.
O taxista continuou até uma casa de shows escondida, em uma rua sem saída. Descemos do carro e Dave tentou pegar os papéis da minha mão.
– Ei, larga caralho! – Exclamei.
– Você não sabe de nada, vai fazer tudo errado. – Ele disse e tentou pegar os papéis de novo. Eu puxei os papéis pra junto do meu corpo e ignorei o que ele disse.  – Nem tomar banho você tomou. – O olhei, rindo.
– Até a roupa que eu tava ontem você gravou, cara. Que merda hen. – Ele ficou com raiva e virou o rosto para o outro lado e ficou olhando para a rua. – E esse cabelo de mocinha, vai cortar quando?
– No mesmo dia em que você resolver tomar banho. – Respondeu com raiva.
Passaram duas meninas ao nosso lado, cochichando algo sobre o Dave. Ele sorriu pra elas, que atravessaram a rua. Dave olhou pra mim e bufou.
– Vou resolver umas coisas. – Ele disse e saiu de perto de mim. Não olhei pra onde estava indo, lia o contrato que estava em minhas mãos. Quando me dei conta ele estava do outro lado da rua conversando com as garotas, fui até ele e o puxei pelo braço.
– O que você pensa que está fazendo? – Perguntei, quase gritando.
– E quem você está pensando que é? – Ele perguntou debochando de mim.
– Temos que resolver as coisas.
– Eu já estou resolvendo as minhas coisas. – Ele conseguiu se soltar de mim. – Agora você sai daqui.
Eu deixei ele com as garotas e entrei na casa de shows, com raiva. Dave ia me pagar. Pedi para falar com o dono e me indicaram uma pequena sala ao fundo. Entrei de uma vez, sem pedir licença ou me anunciar. Sentei na cadeira e joguei os papéis sobre a mesa.
– Quem é você? – O homem de cabelos pretos e barba grisalha me perguntou.
– Empresária do Megadeth.
– E cadê um dos integrantes da banda?
– Não vieram porque eu vim cancelar o show. – Respondi mostrando os papéis a ele.
– Tem certeza? Para uma banda que só está começando eu vou pagar muito por esse show. – Ri debochadamente.
– Pode cancelar tudo que o Mustaine nem vai pensar em segurar esse dinheiro. – Ele cancelou, e quando estava me entregando os papéis, Dave entrou na sala, sorridente.
– E aí? Já acertou tudo? – Perguntou.
– É, parece que não foi dessa vez. – Disse o homem de aparência assustadora.
Levantei e saí da sala. Pude ouvir Dave perguntar “Porque?”. Logo depois ele veio atrás de mim, gritando e me xingando. Estava abrindo a porta do carro quando Dave segurou minha jaqueta e me puxou para ficar de frente pra ele.
– O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA, SUA DOENTE? – Ele gritou. Puxei minha jaqueta da mão dele e me virei para entrar no carro, mas ele me puxou de novo. – Estou falando com você, sua maldita. – Ri, e ele ficou com raiva. – ME RESPONDE.
– É pecado tratar mal ao próximo, você não sabia? – Ele me largou e socou o carro e eu continuava rindo. Ele me encarou e voltou a gritar. – ME DÁ ESSES PAPÉIS.
– Não. – Os escondi nas costas.
– Então tá. – Ele me agarrou e tentou tirar os papéis de mim.
– SOCORRO! SOCORRO! – Eu gritava. A essa altura todos que passavam já estavam nos observando. Dave Mustaine estava supostamente agredindo uma garota. Ele tapou minha boca para que eu parasse de gritar. E eu mordi sua mão com toda força que consegui juntar.
– FILHA DA PUTA! – Ele gritou.
– Agora pode pegar seus papéis, querido. – Eu rasguei o contrato ao meio e joguei em cima dele.
Ouvi o motorista reclamar e dizer que o taxímetro estava rodando e iríamos pagar tudo. Entrei no táxi e Dave veio logo depois de mim.
– Agora vamos  para o estúdio. – Eu disse ao motorista. Ele mal deu partida e Dave já estava reclamando de novo.
– Tá sangrando. – Ele disse enquanto alisava a mão.
– Foda-se.
– Porque você é tão irritante?
– Foda-se. – Ele me encarava sério.
– Eu vou te foder. – Ri.
– Sonha. Eu não gosto de mocinhas.
– Olha meu pinto pra ver se eu sou mocinha, e aproveita pra fazer um boquete. – Eu o encarava, e quando estava prestes a responder, Dijon abriu a porta do carro e se jogou ao meu lado. Steve entrou logo depois dele e se sentou no banco da frente.
– E o show? – Perguntou Steve. Eu ri.
– O que foi? – Perguntou Dijon.
– Deixa que o Mustaine responde essa.
– O que aconteceu Dave? – Perguntou Steve.
– Não tem mais show. – Respondeu irritado.
– O QUE? PORQUE? – Gritava Steve. Dave me olhou e logo depois voltou a olhar para Steve.
– Porque eu não quis. – Parei de rir imediatamente. Porque diabos ele não tinha me dedurado?
Steve ficou dando esporro em Dave até chegarmos na casa dele. Quando o táxi parou, Dijon desceu e pegou em minha mão para me ajudar a descer. Sorri para ele, e Dave o chamou para entrar.
– Não vou entrar agora. Vou levar a Delilah em casa. – Dave bateu a portar do carro com força, entrou batendo os pés e eu ri.
– Tá rolando alguma coisa entre vocês? – Perguntou Dijon.
– Claro que não. – Respondi.
– Delilah, vai pra casa, e me encontra aqui as sete da noite. Vamos sair todos juntos, temos muito o que fazer. – Disse Steve.
– Não posso mesmo ficar em casa?
– Quer ser demitida?
– Então deixa o Dave longe de mim.
– É só você ficar longe dele. – Bufei e olhei para o Dijon.
– Preciso ir. – Disse.
– Deixa eu te levar? – Perguntou Dijon.
– Não.
– Porque?
– Desculpa Dijon, mas não quero ser comida pelo baterista do Megadeth. – Virei de costas pra ir embora, mas Dijon entrou na minha frente e segurou minha cintura.
– Então eu não te como, só te beijo. – Ri.
– Começa com um beijo, depois você vai ficando excitado e eu não quero ter que resistir a isso. – Ele sorria de orelha a orelha.
– Então você quer?
– Já disse, não gosto de bateristas do Megadeth. – Disse rindo. Fui embora e deixei ele parado, olhando pra mim.

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