segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Capítulo 2 - What do you mean "I don't believe in God"?!

Acordei com o telefone tocando incessantemente, era Steve.
 – Preciso de você. Me encontra na casa do Dave em meia hora. – Ele disse, sem nem me deixar falar “alô?”.
 – Qual o endereço? – Perguntei ainda sonolenta e me esticando para pegar um papel.
 – Está em um dos papéis que te entreguei, não os leu? Anda logo. – Ele desligou na minha cara. Não demorei muito a encontrar o papel, tomei banho o mais rápido que pude, vesti minha camisa do Judas Priest e o coturno, como sempre. Corri pro ponto de ônibus, se me atrasasse de novo, Steve me mataria. Cheguei na casa dele com 5 minutos de antecedência, mas Steve, impaciente como sempre, já estava me esperando na calçada.
 – Não estou atrasada. – Me defendi.
 – Eu sei. Bom dia pra você também.
 – Desculpa, bom dia.
 – Não olha, não fala, e finge que não os conhece. – ele disse e se virou para entrar, mas antes que eu pudesse me mexer, ele se virou para mim – Melhor, só abre essa boca pra dizer alguma coisa quando eu mandar.
Ele entrou e eu estava logo atrás. Os meninos estavam jogados na sala de estar, fumando ao som de Black Sabbath. Eu estava mexendo os lábios de acordo com a letra da música, mas Steve atrapalhou meu momento de diversão e desligou o som. E parece que não fui a única a não gostar, pois Greg e Dave estavam murmurando xingamentos contra Steve. Ele pegou o cigarro da mão de Dave e o apagou sobre a mesa de centro.
 – Os papéis de ontem, me dá. – ele disse pra mim, e eu os entreguei. Ele jogou os papéis em cima dos meninos, e a julgar por suas expressões, não eram boas notícias. – Pois é. – Steve continuou. – Temos que conversar. Você, garota. Senta ali e espera, tenho que falar com eles a sós. – Me sentei e fiquei observando a sala por um tempo, tudo tão bagunçado e cheirando a mofo misturado com maconha, como Dave conseguia viver naquele lugar? Por mais que Steve tivesse pedido privacidade para falar com eles, eu conseguia ouvir tudo. Eles não eram muito sutis. – O dinheiro que eu tenho não é suficiente para comprar tudo de uma vez, não passa nem perto. – Eu estava mexendo nos papéis que Steve me entregara no dia anterior. – Mas como eu já esperava por isso, consegui um patrocínio e é só... – Ele foi interrompido.
 – Eu já volto. – disse Dave. Não levantei a cabeça para ver o que ele iria fazer, mas senti ele se aproximar de mim. – Oi, qual o seu nome? – Eu não respondi, Steve me mataria se eu respondesse. – Ei, eu estou falando com você. – Ele insistia, e eu não respondia. Até que era divertido. – Fala comigo, mas que saco. – Ele já estava ficando irritado, e eu com vontade de rir. – Eu sei que o Steve não quer que você fale comigo, mas me responde, pelo amor que deus tem por você e por mim. – Eu não aguentei e ri.
 – Sou ateísta. – disse o olhando nos olhos. Ele ficou me olhando como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo e eu voltei a mexer nos papéis.
 – Ta bom, mas qual seu nome? – ele insistiu e eu ignorei. – Não vai mesmo... – ele foi interrompido.
 – Oi. – disse Ellefson. Ele sentou ao meu lado e ficou me olhando. – Qual o seu nome?
 – Delilah. – respondi sorrindo. Aquilo irritou Dave, o que me fez rir.
 – Sua blusa. – Dessa vez foi Greg que falou.
Ficamos conversando sobre música, e quando falamos de Metallica, Dave bufou. “Parece que alguém ainda não superou o chute” pensei.
 – Ei, bem que podia sair com a gente a noite né? – disse Greg, sorrindo. – Vamos pra um bar.
 – Eu não posso, Steve vai ficar louco.
 – Ele não precisa saber. – disse Ellefson.
Dave se afastou de nós e eu o acompanhei com os olhos. Ele estava indo falar com o Steve. E claro que era de propósito, pois ele falou alto, quase gritando.
 – Parece que nossa babá esqueceu que a função dela é cuidar e tá querendo trepar. – O que aquele filho da puta estava fazendo? Queria que eu perdesse meu emprego? Steve se assustou com o grito de Dave e se virou pra mim, eu o olhava receosa.
 – Você, garota. Levanta. – Catei meus papéis e levantei imediatamente. – Vocês dois.. – ele disse para Greg e Ellefson. – Ou melhor... – Agora alternava o olhar entre os quatro garotos. – Vocês quatro, fiquem longe dela. – Ele voltou a me olhar. – Você garota, se não quiser perder o emprego, é melhor me obedecer.
Me desculpei e quando ia acompanhar Steve para fora da casa, Ellefson me segurou pelo braço.
 – Aparece por lá. – Ele sussurrou ao meu ouvido e me entregou um pequeno pedaço de papel amaçado.
Eu tinha pego um táxi até o bar, gastei a merda do resto de dinheiro que tinha para a semana por não conseguir chegar sozinha. Entrei e logo avistei os meninos. Ellefson se levantou e veio em minha direção, com certeza já estava bêbado, além de feder a álcool, ria tanto que achei que fosse explodir. Ele passou o braço em volta dos meus ombros e grudou meu corpo no dele.
 – Estávamos esperando por você. – ele sorriu e me arrastou até o balcão. Sentei no banco e sorri para Greg, que estava ao meu lado e ele sorriu de volta.
Já tinha se passado quase uma hora, e eu já tinha bebido demais, ou mais do que estava acostumada. Vi Dave sair do banheiro com duas garotas e ri. Ele se aproximou de nós com um sorriso debochado no rosto.
 – Olha só quem tá aqui, a ateísta que vai pro inferno. – Ele disse irônico.
 – Então a gente se encontra lá, porque comer duas de uma vez não é coisa de deus. – retruquei e ri debochadamente. Ele ficou furioso e saiu de perto. Vi Dijon se aproximar de mim, rindo.
 – Posso te pagar uma dose pelo que disse pro Mustaine? – Ele disse perto ao meu ouvido. Me virei para ele e disse:
 – E você, quem é? – Claro que sabia quem ele era, mas o que custa provocar um pouco? Ele se sentou ao meu lado.
 – Dijon, prazer. – Estendeu a mão para que eu o cumprimentasse e ignorei. – Baterista do Megadeth. – Ele abaixou a mão ao perceber que não teria resposta.
 – Não precisava falar isso, teria ficado mais interessante. E eu já te conheço. – respondi com um meio sorriso. Me levantei para ir embora e ele me segurou pelo braço.
 – Porque não fica mais? – pediu.
 – Não obrigada, não curto bateristas do Megadeth.
 – Sem baterista do Megadeth dessa vez. – ele disse sorrindo. Aproximei meu rosto do dele e sussurrei em seu ouvido:
 – Deixa pra outro dia, Dijon Carruthers. – Me afastei. Quando estava quase no lado de fora do bar me virei, e pude ver ele sorrindo e olhando pra mim, sorri e fui embora.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Capítulo 1 - Bad Omen

LA, 1983.
Primeiro dia em um emprego novo. Estou trabalhando como secretária do Steve Halford, nada melhor do que ser capacho de um empresário metido a fodão, acho que o único lado bom disso é que eu provavelmente vou ver o Megadeth tocando e ao vivo.
Cheguei ao estúdio com a calça jeans surrada de sempre, coturno e a jaqueta preta, já era praticamente um uniforme.
– Está atrasada. – disse Steve, sem tirar os olhos dos papéis que revirava.
– Perdi o ônibus e... – ele não me deixou terminar de falar.
– Não importa. – ele jogou um bolo de papéis nas minhas mãos. – Regras. Não se atrasar, não me desrespeitar, não desrespeitar meus clientes, não falar com a banda, e o mais importante, não transar com eles. – Aquilo me fez rir, mas Steve não estava de brincadeira. Ele me encarou com raiva, o que me fez parar imediatamente. – Vem comigo.
Eu o acompanhei até uma sala de gravação, onde o Megadeth estava tocando. Ficamos observando por um tempo. Uma excitação e ansiedade tomavam conta de mim, eu estava ali na mesma sala que Dave Mustaine.
– O que achou? – Dave perguntou para Steve.
– Foi bom, mas não foi perfeito.
Um dos meninos, de cabelos castanhos na altura dos ombros, me encarava, me olhava dos pés a cabeça. Aquilo estava me deixando desconsertada.
 – E quem é essa? – ele perguntou.
 – Sua nova babá. – respondeu Steve, o que me fez rir, e parece que os meninos também acharam graça.
 – Pegável. – disse Dave olhando pra mim.
 – Nada mal pra uma babá – dessa vez foi um outro.
 – Esse é Dave, o da babá é Ellefson... – O interrompi, afinal, que diabos de nome era aquele?
 – Ellefson? – perguntei.
 – David Ellefson. – o garoto me respondeu sorrindo.
 – Não me interrompa. – disse Steve. – Aquele é Dijon e o outro ali o Greg.
Steve não se importou em dizer meu nome a eles, e eu não ia dizer, a menos que perguntassem, é claro.
 – E qual o seu nome? – Dave perguntou.
 – Não interessa. – respondeu Steve no meu lugar. – Vai lá pra fora e me espera no carro, temos muita coisa pra resolver. – Ele me entregou as chaves e eu saí, os deixando a sós e indo para o lado de fora.
 Ótimo, o babaca não tinha me dito qual era o carro. Tudo que eu podia fazer era esperar. Fiquei ali por mais uns 20 minutos, já estava ficando irritada com tanta demora e estava prestes a voltar pro estúdio quando Steve saiu nervoso de lá.
 – Porque não está no carro? – perguntou ele.
 – Eu não sei qual é o seu carro. – respondi, entregando a chave na mão dele.
 – Ah, é. – Ele se dirigiu até um Mustang 67 preto, e eu o segui. Já estávamos dentro do carro e eu nem sabia para onde íamos. – Aqueles garotos vão me deixar maluco qualquer dia. Melhor você ficar longe deles, pro seu bem. Eles não são bem o que você pensa, são drogados egocêntricos e a única coisa boa que eles conseguem ver em você é a sua buceta. São um pior que o outro, pode acreditar. – Ele deu partida no carro, e nós seguimos o caminho pra sei lá onde.
 – Pra onde vamos? – tomei coragem e perguntei.
 – Ver o preço dos instrumentos, eles precisam de novos.
Passamos o resto do dia rodando Los Angeles atrás de instrumentos que não custassem um rim. Achamos em uma lojinha escondida em alguma rua por aí, sinceramente não prestei muita atenção. Voltei pra casa já eram mais de sete da noite e eu estava exausta, tudo que queria era dormir. Tomei um banho e me joguei na cama, se eu tivesse qualquer outra necessidade, teria de deixar para o dia seguinte.