Meus pensamentos foram interrompidos pelo telefone e por um momento considerei não atender, mas o barulho irritante só fazia com que minha cabeça doesse mais.
– Delilah, é o Dave.
– Oi, o que você quer?
– Só liguei para saber se você estava viva. – Não, meu fantasma que te atendeu.
– Estou, agora você já pode desligar.
– Tá bom, tchau.
– Tchau. – Fiquei esperando ele desligar o telefone, mas ainda podia ouvir sua respiração. – Ligou só para isso?
– Foi.
– Então por que não desliga o telefone?
– Desliga você.
– Não, desliga você.
– Você não manda em mim, eu não vou desligar. – Ele já estava me irritando.
– Desliga logo a porra do telefone, Mustaine.
– E se eu não quiser desligar, caralho?
– Então eu desligo. Tchau.
– Não, eu desligo. – Ri.
– Ah, vai se foder.
– Você deveria me agradecer por ontem. – Bati o telefone no gancho, com força e me sentei à cama. O que ele quis dizer com aquilo? Respirei fundo e puxei o telefone para meu colo, me estiquei até o criado-mudo e abri a gaveta. Tive que me esticar ainda mais para conseguir pegar a agenda. Poderia ligar para Ellefson, mas com certeza o acordaria. Liguei para Dave, que demorou a me atender.
– Alô?
– É a Delilah. – Pude ouvi-lo rir.
– Você de novo?
– O que aconteceu ontem?
– Eu vou até aí te contar.
– Não.
– Por que não?
– Não quero você na minha casa.
– Então fica sem saber. – Ficamos em silêncio por alguns segundos e eu suspirei.
– Tá bom, pode vir. – Desliguei o telefone e me deitei no sofá. Não tinha se passado nem cinco minutos e bateram à porta. Não era possível que fosse Dave, a casa dele não era tão perto assim da minha. Levantei e abri a porta. Dijon estava parado sorrindo para mim.
– Olá! – Ele disse me abraçando. – Como você tá?
– Bem e você?
– Estou bem.
– Entra. – Pedi e indiquei o sofá para que sentasse.
– Como você tá levando a vida? – Ele bateu no assento vago ao seu lado e me sentei.
–Ah, só o que você já sabe. Perdi o emprego por culpa do Mustaine e estou tentando sobreviver.
– Todo mundo perde o emprego por culpa dele. – Nós rimos. Dave abriu a porta violentamente e gritou:
– CHEGUEI! – Ele tirou o sorriso do rosto e ficou encarando Dijon.
–Claro, pode entrar. Sinta-se à vontade.– eu disse irônica, mas Dave me ignorou.
– O que ele tá fazendo aqui? – ele não gritava, mas estava quase lá.
–Veio me ver. – eu disse me aproximando dele.
– Não era para você estar falando com ele.
– Por quê?
– Ele é o inimigo. – Dijon deu uma gargalhada alta e nós o encaramos.
–Relaxa, cara.
– Dave, você é patético. – eu o empurrei na direção do sofá e ele se sentou. Debrucei-me sobre o parapeito da janela e chamei Dijon.
– Vocês estão tendo alguma coisa?
– Não, claro que não. – ri. – Ele só deve estar ficando maluco mesmo.
Toda vez que olhávamos para Dave, ele estava nos encarando de cara amarrada. Estava começando a me irritar e Dijon deve ter se sentido incomodado, pois não ficou por muito mais tempo.
– Eu tenho que ir. – ele disse olhando para Dave mais uma vez. – É melhor, antes que o outro ali me ataque. – nós rimos e fomos em direção à porta. – Eu venho te ver de novo. – assenti e acenei para ele. Fechei a porta e sentei ao lado de Dave.
– Pronto, agora você pode falar.
– Agora você pode falar comigo? – ele parecia mais irritado do que eu imaginara.
– Você parece uma criança. – Dave bufou. – Me conta o que aconteceu ontem.
– Agora você vai ficar querendo saber.
– Sério? Você esperou esse tempo todo para não me contar? – ele se levantou para ir embora, mas fui mais rápida e entrei na frente da porta, o impedindo de abrir.– Não vai sair daqui até me dizer o que aconteceu.
– Então vamos ficar aqui por muito tempo. – disse cruzando os braços. Ficamos nos olhando até ele aproximar o rosto do meu. Tapei sua boca.
– O que você pensa que está fazendo?
– Não é óbvio? – ele tirou minha mão de sua boca, pôs a dele em minha nuca e me beijou. Eu não cedi exatamente, mas também não o impedi. Logo depois beijou meu pescoço e eu o empurrei.
– Para!
– Não. – Dave me segurou pela cintura pressionando meu corpo contra a porta e voltou a beijar meu pescoço enquanto eu estapeava suas costas. Entrelacei meus dedos entre seus cabelos, puxei com força e ele gemeu de dor. – É assim que eu gosto. – o encarei e ri.
– Mas é mesmo uma moça.
– Cala a boca. – continuou a beijar meu pescoço e passou a mão na minha bunda, tentou me beijar, mas mordi sua língua e o empurrei.
– Se você se aproximar de mim eu vou gritar.
– Você não vai fazer isso.
– Tenta a sorte. – ele se aproximou. Um passo de cada vez. – Um... Dois... Três. – gritei com toda força que consegui. Dave pôs a mão em minha boca e sussurrou ao meu ouvido:
– Cala... a boca. –senti frio na barriga e me arrepiei ao ouvir sua risada. Ele beijou minha orelha lenta e delicadamente. Puxei sua blusa aos poucos e a tirei. Como você se entrega fácil, Delilah. O beijei novamente e arranhei suas costas enquanto ele apertava minha nuca. Uma voz em minha cabeça dizia que eu deveria bater nele, morder ou qualquer coisa que o fizesse parar, mas meu corpo dizia o contrário. Dave puxou meu cabelo, inclinando ainda mais minha cabeça, pôs a outra mão em meu seio enquanto eu chupava sua língua. Ele desceu beijando do meu pescoço até meus seios e os apertou. Gemi baixo ao seu ouvido e mordi sua orelha. Bateram à porta.
– Dave... – eu disse baixo. Dave agiu como se nada tivesse acontecido, estava abaixando um lado da minha blusa e beijando meu ombro. – Dave, eu tenho que atender.
– Não. – ele me imprensou contra a porta enquanto procurava o fecho do meu sutiã.
– Dave! –o empurrei e ele bufou. Puxei de volta a alça da blusa e abri a porta. – Vovó! – ótima hora para aparecer. – O que você está fazendo aqui? Não sabia que viria. – perguntei a abraçando.
– Tem que avisar agora para visitar minha netinha?
– Claro que não, entra.
– AH, MEU DEUS! QUE É ISSO? – minha avó gritava olhando para Dave, mais precisamente para suas calças. – ESCONDE ISSO, MENINO! E VÊ SE PÕE UMA CAMISA. – Dave a olhava assustado enquanto eu ria. Ela se voltou para mim. – Filha, esse é seu namorado? Você não me disse que tinha um namorado.
– Não, vó. Ele não é meu namorado.
– Tudo bem, filha. Não precisa ter vergonha. Ele é feio, mas se você gosta dele, não tem problema nenhum. – eu acho que ri alto demais, porque os dois me encaravam.
– Ele não é meu namorado, vó. E já estava indo embora, né?
– É. – Dave se abaixava para pegar sua camisa que estava jogada no chão. – Tchau. – ele ficou me olhando, como se esperasse que eu fosse beijá-lo ou algo do tipo.
– Mas não precisa ir embora. – ótimo, agora minha avó queria socializar com ele. – Venham, eu trouxe lanche. – ela disse indo à cozinha. Dave me olhava com um sorriso sarcástico no rosto.
– Cala a boca, babaca.
– Mas eu nem falei nada. – ele respondeu rindo enquanto botava a camisa. Fui para a cozinha e Dave me seguiu, sentou-se à mesa e ficou me olhando.
– Menina, você não come, não? – disse minha avó, que estava olhando minha geladeira. – Vem me ajudar. – me aproximei dela e pus as mãos sobre a pia.
– O que você quer que eu faça?
– Na verdade, eu só queria falar que ele parece ter um bem grande. – ela sussurrava para mim.
–Um o que vó?
– Você sabe... dote. – me controlei para não rir da cara dela. Minha avó estava mesmo prestando atenção no pinto do Dave?
Ela tirou um bolo de dentro da sacola que trouxe, cortou um pedaço e levou para ele.
– Qual o seu nome menino?
– Dave.
– Dave? Mas que nome de marginal.
– É David, vó. – eu disse me sentando na cadeira de frente para ele.
– David, claro. David de que?
– Mustaine. – Ele respondeu.
– Pelo menos alguma coisa bonita. Agora coma esse bolo, e come tudo pra ver se você deixa de ser tão magricela. – eu ri e Dave me encarou. – Senta ao lado do seu namorado, querida.
– Ele não é meu namorado, vó.
– Não? – Perguntou Dave.
– Não.
– Não é assim que se trata seu namorado. Senta do lado dele, vai. – a essa altura eu já tinha desistido de contrariá-la. Levantei-me e sentei na cadeira ao lado do Mustaine e minha avó sentou de frente para nós. – Quantos anos você tem, David?
– Vinte e dois.
– Nossa, a Delilah é tão novinha. Você sabia que ela é virgem? – senti meu rosto queimar e o cobri com a mão. Dave me olhava, se segurando para não rir.
– Claro. Eu cuido muito bem dela. – ele botou a mão em minha coxa e acariciou. Empurrei-a com força e ele riu.
– Por isso você não tem namorados legais. É tão grossa com eles. Até o David vai te largar se você continuar assim. Vai achar uma menina delicada para cuidar dele.
– Sua avó tá certa. Você não me dá carinho, fica socializando com o inimigo e é selvagem demais. – cruzei os braços e o encarei.
– Não é assim que você gosta? – ele riu.
– Depende da situação.
– Filha, você é virgem? – ignorei-a e respirei fundo.
– Vó, o que você veio fazer aqui?
– O casamento da sua prima é amanhã e você ainda não experimentou o vestido.
– Vestido? – Dave perguntou e nós o ignoramos.
–Eu já disse que não vou, vó. – ela me ignorou e o tirou da bolsa.
– Vá experimentar. – levantei emburrada e olhei para Dave, que riu. – Você fica aqui, menino. – o vestido era longo e azul-marinho, com decote nas costas que ia até quase minha bunda. Depois de muito esforço para que ele passasse por meus peitos, me olhei no espelho e revirei os olhos. – Você está ainda mais linda, minha filha.
– Tá, posso tirar?
– Mas e seu namorado? Não quer que ele veja?
– Pra que?
– Tudo bem, então. Tire. – tirei o vestido, o joguei em cima da cama e voltei para a cozinha.
– Ué, cadê? Eu sou o namorado, tenho que ver também.
– Vai ficar querendo. – mostrei a língua pra ele, que riu.
– Eu disse a ela para te mostrar, mas sabe como a Delilah é. – me sentei ao lado dele e apoiei os braços sobre a mesa. – Filha, deveria levá-lo ao casamento. – ela não podia ter dito isso. Não, tudo menos isso.
– Ele não tem tempo.
– Quem disse? – indagou Dave.
–Eu estou dizendo.
– Então você vai? – minha avó perguntou animada.
– Mas é claro. – ele disse ao tentar me abraçar.
– Já tá na hora de você ir embora, não acha? – perguntei o encarando com raiva. Dave olhou para o relógio de parede e suspirou.
– Parece que sim.
– Arrume um terno, David. Não quero você no casamento com essas blusas esquisitas que vocês têm.
– Claro. – ele estava em pé me olhando. – Vem comigo até a porta, amor?
– Por que, suas pernas estão quebradas? Ah, não estão. Quer que eu as quebre para você? – minha avó me encarava em reprovação. Levantei-me e o puxei pelo braço até a porta.
– Que horas eu venho te buscar amanhã?
– Eu não vou, muito menos você. – ele riu.
– Claro, porque sua avó não vai te obrigar a ir. – respirei fundo. Ele tinha razão, eu seria obrigada a ir, e se fosse para aturar tudo aquilo, por quê não com companhia?
–Cinco da tarde. E não se atrasa.
– Não vou. – Dave já estava no corredor. Passou a mão em meu rosto e se aproximou para me beijar, mas eu virei e ele acabou beijando meu cabelo. – Agora pouco você estava gemendo ao meu ouvido, mas não me dá um beijo? – revirei os olhos e bati a porta na cara dele. A última coisa que eu precisava agora era que ele percebesse que eu tinha ficado com vergonha.
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